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COVID trouxe incerteza ao setor de energia
Normalidade causará boom nas commodities
Saiba qual impacto isso terá para o Brasil

 

A pandemia do coronavírus (COVID-19) causou um comportamento dos mais atípicos no mercado do petróleo em 2020. O ano começou com um grande desacordo na Opep+ em torno das cotas de produção entre a Arábia Saudita e Rússia, fazendo com que os contratos do Brent e do WTI atingissem máximas recordes. Entretanto, com a aceleração da pandemia ocorre uma reversão nos preços atingindo quedas nunca vistas anteriormente.

As medidas de distanciamento social e de restrição à mobilidade provocaram uma forte queda no consumo de combustíveis, em particular, no setor de transporte. Com a queda na demanda e o aumento nos estoques de petróleo, o contrato futuro do petróleo fechou em campo negativo. O fato inédito ocorreu em 20 de abril, quando venceram os contratos de maio do petróleo tipo West Texas Intermediate (WTI), negociado nos Estados Unidos, com o preço de US$ -37,63 o barril, uma queda de mais de 300%. Mesmo o Brent chegou a ter sua cotação abaixo dos US$20/barril.

Nesse momento, começa a se verificar que as brigas entre a Rússia e a Arábia Saudita não mais determinavam os níveis de preço do barril e sim as medidas sanitárias para conter o espalhamento do vírus. Pela primeira vez na história tivemos o preço do barril do petróleo determinado por questões de saúde publica e não por razões econômicas.

Em função disso, a Opep+ muda a sua estratégica adotando a tradicional redução da produção através de cotas por país membro. A partir de então, decidiram, em abril, pelo corte de 9,7 milhões de barris por dia (b/d) na produção dos meses de maio e junho de 2020. Em agosto, o grupo decidiu reduzir o nível dos cortes de produção para 7,7 milhões de b/d, ao constatarem sinais de melhora à medida que as economias em todo o mundo começaram a voltar a se abrir.

Todo esse cenário, apontava para que tivéssemos uma recuperação muito lenta do preço do barril em 2020. Entretanto, com a reabertura da economia no verão do Hemisfério Norte, interrompendo o isolamento houve uma retomada da economia e do consumo do petróleo que surpreendeu o mercado. Entre junho e janeiro/2021, o preço do Brent teve crescimento superior a 40%, com o barril superando os U$S 55. Ou seja, apesar da queda da taxa de crescimento da economia mundial, o comportamento dos preços do petróleo e mesmo de outras commodities acabaram por atingir preços que ninguém imaginava no começo da pandemia.

Com a chegada das vacinas somada à vitória democrata na presidência dos Estados Unidos, inclusive no Senado, melhoraram as perspectivas de crescimento da demanda mundial de petróleo para 2021. O preço do petróleo iniciou 2021 acima dos US$ 50/barril.

Diante desse cenário, a Opep+ acordou reduzir os cortes para 7,2 milhões de b/d a partir de janeiro de 2021. Para os meses seguintes, o grupo ajustará gradualmente os seus cortes de produção para equilibrar o mercado. A perspectiva é de que, em 2021, o petróleo continue subindo, atingindo um preço médio US$ 60/barril e possivelmente picos de mais de 70 dólares no segundo semestre.

A incerteza sobre a duração da pandemia, seus impactos econômicos e sociais e as respostas políticas abriram uma gama de possibilidades para o futuro da energia. Na busca de soluções aos efeitos da pandemia, foram diversas as reflexões sobre o futuro da energia e o pico da demanda de petróleo. A grande aposta nas diversas análises e projeções seria o aumento da velocidade da transição energética.

A longevidade da pandemia e necessidade de uma recuperação econômica de forma mais rápida, afinal o mundo inicia 2021 muito mais pobre, torna questionável o movimento de aceleração desta transição. A ampliação dos esforços para a vacinação em massa impulsionará a retomada da atividade econômica com consequente necessidade do aumento do consumo de energia. E a energia que poderá atender de formas mais rápida, mais eficiente e mais barata são os fósseis, em particular o petróleo.

O tão desejável retorno da normalidade em 2021 trará de volta um boom das commodities, como ocorreu no pós crise de 2008. Para o Brasil esse boom de commodities tem dois aspectos. A nível de exportações e balança comercial os resultados serão ótimos. Afinal, somos grandes exportadores de commodities. Já somos o maior exportador de petróleo da América Latina. A nível de mercado interno podemos ter problemas inflacionários e precisamos de políticas econômicas adequadas diante desse cenário. Preocupa a volta de fantasmas no mercado de petróleo nacional: o fantasma da defasagem dos preços dos derivados com a gasolina e diesel e o fantasma da volta da política de conteúdo local dentro da lógica daninha de reserva de mercado.

 

 

Fonte: Poder360