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Nova empresa terá fatia de mercado inferior a 30%. Cade deve aprovar operação, avaliam especialistas

Por Letycia Cardoso para O Globo.

 

RIO – A compra da Liquigás , subsidiária distribuidora de botijões de gás da Petrobras, por um consórcio liderado pela Copagaz deve ter um desfecho diferente da primeira tentativa de venda pela estatal, em 2018. O negócio, informado pela Petrobras na quinta-feira, deve ser confirmado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão regulador da concorrência, e não deve resultar em alta de preços, avaliam especialistas.

A soma das fatias de mercado da Liquigás e da Copagaz no país não ultrapassará 30% do mercado de botijões, de acordo com dados do Sindigás. Em 2018, o Cade impediu a compra da Liquigás pela Ultragaz porque, juntas, as duas empresas teriam uma fatia de 45,6% do mercado de botijões de gás.

Essa concentração, na visão do órgão, deixaria os consumidores de gás de cozinha (GLP) com poucas alternativas de fornecimento. Ou seja, a Ultragaz teria espaço para aumentar preços sem deixar alternativas aos consumidores em áreas de predominância.

Agora, o consórcio formado por Copagaz (80%) e as minoritárias Itaúsa e Nacional Gás Butano venceu outros dois concorrentes com a melhor oferta pela Liquigás: R$ 3,7 bilhões. O valor é superior ao que a Ultragaz iria pagar na negociação de 2018: R$2,8 bilhões.

Na Região Sul, 40% do mercado

A compra da Liquigás vai representar um forte impulso para a Copagaz, que tem apenas 8,66% do mercado nacional, destaca a especialista em Economia da Energia e professora da Escola Politécnica da UFRJ (Poli-UFRJ), Rosemarie Bröker Bone.

Já a Ultragaz detém 23,3% das vendas do setor. Se a aquisição da Copagaz for mesmo confirmada, a união com a Liquigás formará um grupo capaz de superar a Ultragaz. Dependendo da região, a concentração pode ser maior ou menor.

— No Sudeste, maior demanda do país, essas empresas vão somar 28% do mercado. No Nordeste, 26%, batendo de frente com a Ultragaz, que detém a mesma porcentagem. Já no Sul, serão quase 40%. Olhando dados de concentração de mercado, a Liquigás e a Copagaz estão numa zona de baixo risco em relação ao que seria se a Ultragaz tivesse efetuado a compra. Acredito que não haverá temor de prejudicar o mercado comprador. Porém, o Cade ainda tem que fazer uma real avaliação da negociação — avalia Rosemarie.

Criada em 1953, a Liquigás foi adquirida pela BR Distribuidora em 2004 e transformada em subsidiária direta da Petrobras em 2012. Atualmente, a empresa atua em 23 estados e tem mais de 35 milhões de consumidores residenciais no país.

O professor de Finanças do Ibmec, George Sales, acredita que os preços dos botijões não vão aumentar porque a concorrência ainda será suficiente para equilibrar os preços. Ele observa que, no longo prazo, o aumento de escala do grupo Copagaz pode até mesmo permitir que a companhia tenha uma política competitiva mais agressiva, beneficiando o bolso do consumidor.

Negócio é bom para Petrobras

Rosimarie, da Poli-UFRJ, também não acredita em alta dos preços como consequência desse negócio. Ela pondera que o preço do botijão de gás tem um componente social muito significativo por ser um item que pesa no orçamento das famílias mais pobres:

— Não sei até onde Ultragaz e Copagaz vão entrar numa parceria ou numa guerra de preços. Acredito que o bom senso deve prevalecer. Senão, vai chegar o momento em que vamos voltar a cozinhar com lenha e carvão, principalmente no Norte e Nordeste que são as regiões mais carentes.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, concorda que a aquisição deve satisfazer os critérios do Cade. Ele observa que o negócio é tão positivo para a Copagaz quanto para a Petrobras, que vem tentando acelerar seu programa de venda de ativos para concentrar investimentos na produção de petróleo.

A atual gestão da estatal planeja reduzir a sua participação no setor de gás.

— O preço é superior ao que a Ultragaz iria pagar e a Petrobras só encontrou uma empresa disposta a isso, porque o crescimento da Copagaz vai ser grande. Ela possui um mercado complementar ao da Liquigás. Ela vai deixar de atuar apenas em São Paulo e no Mato Grosso do Sul e vai ganhar dimensão nacional.

Como se trata de uma subsidiária de uma estatal, a Liquigás pode ser privatizada sem necessidade de aprovação pelo Congresso, segundo decisão deste ano do Supremo Tribunal Federal.

(Fonte: O Globo)