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Ativos comprados no leilão dos excedentes da cessão onerosa ajudam a melhorar o cenário

Por André Ramalho para o Valor Econômico.

A queda das reservas provadas da Petrobras em 2019, para os seus patamares mais baixos desde 2001, reforça a necessidade da companhia de investir mais em exploração. A estatal já anunciou que intensificará as perfurações no pré-sal a partir deste ano, em busca de novas descobertas. Outro trunfo está nos volumes da área de Búzios, na Bacia de Santos comprados pela petroleira no leilão dos excedentes da cessão onerosa, em novembro, por R$ 61,3 bilhões.

A Petrobras incorporou cerca de 1 bilhão de barris de óleo equivalente (BOE) de óleo e gás as suas reservas em 2019. A apropriação veio, sobretudo, do remanejamento de volumes devido à revisão do contrato de cessão onerosa. A empresa não detalha, porém, o quanto dos barris de Búzios já foi incorporado as suas reservas. Em 2013, a empresa declarou a comercialidade da área (na época conhecida como Franco), com volumes estimados, na ocasião, em 3 bilhões de barris. A expectativa no mercado, contudo, é que a área possa ter até 10 bilhões de barris de óleo equivalente (BOE) de óleo e gás.

“No futuro, talvez elas [reservas de Búzios] sejam as reservas que não são agora para a empresa. Existe um potencial para que sejam reservas [importantes] para a companhia no futuro”, disse o diretor de exploração e produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira, em dezembro.

A incorporação de novos volumes, contudo, não foi suficiente para impedir a queda das reservas provadas da Petrobras em 2019. Ao todo, elas totalizaram, pelos critérios da Securities and Exchange Commission (SEC), 9,59 bilhões de BOE, volume estável (-0,1%) em relação a 2018. Já pelos critérios ANP/SPE (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis/Society of Petroleum Engineers), as reservas somavam 11,235 bilhões de BOE ao fim de 2019, retração de 6% na comparação anual. A diferença entre os dois critérios está associada, principalmente, às premissas econômicas. Fora isso, a ANP/SPE considera os volumes de produção previstos para além do prazo contratual de concessão nos campos do Brasil.

Se o atual ritmo de consumo e reposição se mantiver, a expectativa é que as reservas da Petrobras se esgotem em 10,5 anos. O número é baixo, se comparado aos patamares acima de 18 anos que a companhia manteve na primeira metade dos anos 2010, antes da queda dos preços do petróleo – critério que impacta diretamente na contabilidade das reservas. Na comparação com alguns de seus pares globais, a situação da estatal está distante da realidade de empresas como a ExxonMobil (17 anos) e Total (20 anos), mas próxima dos números da Shell (oito anos) e Equinor (nove anos), segundo dados de 2018.

Para o geólogo Pedro Zalán, da ZAG Consultoria, a relação reserva/produção da Petrobras “não é muito confortável” e reforça a necessidade de investimentos em exploração. Depois de anos retraída, devido a sua crise financeira, a empresa recompôs o seu portfólio nos últimos leilões e se prepara para aumentar as atividades. Entre 2020 e 2024, a meta é investir a média de US$ 2,3 bilhões ao ano – mais do que o triplo da média de aportes dos últimos quatro anos.

O geólogo destaca, no entanto, que mesmo que a Petrobras seja bem-sucedida em suas campanhas exploratórias daqui para frente, eventuais novas descobertas só serão contabilizadas no médio e longo prazos.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, por sua vez, avalia que a tendência é que o pré-sal, sobretudo Búzios, ajude a petroleira a aumentar as reservas nos próximos anos. “A estratégia da Petrobras de focar no pré-sal é inteligente, porque se trata de descoberta geralmente de alto potencial. E isso vai se refletir numa produção futura de uma área muito rentável.”

O cenário para o crescimento das reservas da companhia tem seus desafios. Isso porque a Petrobras prevê aumentar a sua produção de óleo e gás ao longo dos próximos anos. Até 2024, a expectativa é elevar o patamar de 2,7 milhões de BOE/dia para 3,5 milhões de barris/dia. Além disso, a venda de ativos deve continuar a pressionar para baixo o volume de reservas.

Zalán destaca que a falta de investimentos da Petrobras na recuperação de campos maduros, para conter a taxa de declínio desses ativos, é outro fator que compromete a capacidade da empresa de aumentar suas reservas. Em Roncador, na Bacia de Campos, por exemplo, a Petrobras fechou uma parceria com a Equinor para investimentos na revitalização do ativo. A meta é aumentar em 1 bilhão de BOE o volume recuperável de óleo e gás da área, mas o projeto ainda dá seus primeiros passos.

O geólogo defendeu, ainda, que a companhia precisa se diversificar geograficamente e que a empresa precisa buscar descobertas para além do pré-sal, embora a região tenha um potencial gigante.

“Há um risco de se concentrar muito apenas numa região. Se o pré-sal eventualmente começa a dar problema, com taxas de declínio inesperadas, como aconteceu no pós-sal da Bacia de Campos, ela não tem hoje um plano B. É preciso buscar novas fronteiras. A Exxon, por exemplo, adicionou 8 bilhões de barris em reservas investindo na Guiana”, comentou.

(Fonte: Valor)