Post

Embora a demanda siga resiliente, a pressão sobre os preços pode se intensificar, criando um ambiente volátil e de difícil previsibilidade

O mercado global de petróleo vive um momento marcado pela incerteza de oferta e demanda e volatilidade nos preços. De um lado, projeções oficiais indicam que a demanda deve seguir crescendo, sobretudo em economias não pertencentes à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). De outro, os preços internacionais tendem a permanecer pressionados, diante da expansão acelerada da oferta. 

Com esse cenário estruturalmente instável, o tarifaço de Donald Trump e a volta de políticas protecionistas adicionam mais uma camada de risco, com potenciais impactos sobre fluxos comerciais, custos de importação e estratégias de investimento.

Segundo o Oil Market Report de agosto de 2025, da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a demanda mundial por petróleo deve aumentar em 680 mil barris por dia (b/d) em 2025 e 700 mil b/d em 2026, alcançando o patamar de 104,4 milhões de b/d. Esse crescimento, no entanto, não é uniforme. 

Países da OCDE devem apresentar estabilidade, com destaque para a desaceleração do consumo no Japão. Já o avanço é identificado quase integralmente em nações não-OCDE, mesmo diante de sinais de fraqueza em China, Índia e Brasil nos últimos meses. A leitura da IEA sugere, portanto, um quadro de expansão moderada, mas sustentada pelo dinamismo das economias emergentes.

No campo da oferta, o mesmo relatório mostra uma fotografia diferente: a produção global ficou em 105,6 milhões de b/d em julho, praticamente estável, mas deve ganhar força com a decisão da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus Aliados) de elevar metas de produção a partir de setembro. 

A expectativa é que o crescimento chegue a 2,5 milhões de b/d em 2025 e 1,9 milhão em 2026, consolidando um cenário adverso de sobreoferta significativa no mercado internacional. A principal aposta da organização é na continuidade do plano de retomada de produção da Opep+, que deve ser concluído até setembro de 2026.

A leitura da U.S. Energy Information Administration (EIA) reforça esse contraste. Em seu Short-Term Energy Outlook, a agência projeta queda expressiva nos preços do petróleo tipo Brent, que recuam de US$ 71/b, em julho de 2025, para US$ 58/b, no 4º trimestre e cerca de US$ 50/b, no início de 2026. O movimento é explicado pelo excesso de estoques globais, que deve superar em 2 milhões de b/d o esperado anteriormente. Esse acúmulo pressiona operadores a recorrer a formas mais caras de armazenamento, como navios-tanque, o que tende a deslocar os preços para níveis mais próximos do custo marginal dessas alternativas.

Nesse sentido, a EIA estima que o Brent fique em média US$ 51/b em 2026, abaixo da previsão anterior de US$ 58/b. Essa revisão negativa sinaliza um ajuste estrutural: mesmo diante de demanda crescente, a oferta deve avançar em ritmo mais acelerado, criando pressões deflacionárias sobre os preços.

Os Estados Unidos, por sua vez, têm papel central nesse equilíbrio instável. A EIA aponta que a produção norte-americana deve atingir um recorde histórico próximo de 13,6 milhões de b/d em dezembro de 2025, impulsionada pelos ganhos de produtividade dos poços. Contudo, a tendência é de retração logo na sequência. 

Com a queda dos preços, empresas já vêm reduzindo atividade de perfuração e completação, o que pode levar a produção a recuar para 13,1 milhões de b/d até o 4º trimestre de 2026. Em termos anuais, isso representa 13,4 milhões de b/d em 2025 e 13,3 milhões em 2026, configurando o 1º declínio desde 2021, quando o setor se recuperava do choque da pandemia.

A constante revisão e deterioração das projeções do setor, como pode ser visto nos trabalhos tanto da IEA quanto da EIA, ressalta o grau de incerteza instaurado no mercado. Enquanto a IEA enfatiza o crescimento da demanda em países não-OCDE e o retorno gradual da produção da Opep+, a EIA chama atenção para a dinâmica de estoques e para o risco de um ciclo de preços mais baixos prolongados. 

A leitura final é que, embora a demanda siga resiliente, a pressão sobre os preços pode se intensificar, criando um ambiente volátil e de difícil previsibilidade.

Em síntese, o futuro do mercado global de petróleo combina 4 elementos centrais: 

  • demanda moderada, mas desigual, sustentada por economias fora da OCDE; 
  • oferta em expansão, com protagonismo da Opep+ e dos EUA; 
  • cenário político instável, em que medidas protecionistas reforçam a incerteza; 
  • empresas de petróleo precisando atuar cada vez mais com disciplina de capital.

Publicado originalmente pelo Poder360.