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O GSF é uma medida do risco hidrológico, isto é do volume de chuvas nas bacias hidrográficas, para geração de energia hidroelétrica. A sigla significa Generation Scaling Factor em inglês e corresponde à relação entre o volume de energia que é gerado pelas usinas e sua garantia física. Garantia física ou energia assegurada é a quantidade de energia mínima que uma hidrelétrica pode gerar e fornecer durante um certo período. Não é quantidade máxima, e, sim, a mínima que ela consegue garantir.

As hidrelétricas dependem da água das chuvas e força da água dos rios para operar normalmente. Sendo assim, as hidrelétricas não operam em sua máxima capacidade o tempo todo, uma vez que há algumas variáveis para o seu bom funcionamento, como volume de chuvas e dos rios, que depende da sazonalidade climática anual, manutenção das turbinas, entre outros.

No Brasil, a legislação só permite que os contratos do setor elétrico sejam firmados com base na garantia física, para assegurar que o fornecimento contemple a todos. Por lei, cada hidrelétrica tem sua garantia física determinada a partir das condições do longo prazo considerando a variabilidade hidrológica à qual uma usina está submetida e o que cada usina pode fornecer ao sistema (potência instalada), assumindo um critério de risco do não atendimento. Na prática, isto é obtido através de simulações da operação, utilizando séries sintéticas de energia afluente, conforme metodologia aprovada pela ANEEL. A Figura 1 apresenta um exemplo de cálculo de garantia física para geração hidrelétrica.

Figura 1: Exemplo do Cálculo de Garantia Física na Geração Hidrelétrica

Fonte: Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE

Se o resultado da equação for inferior a “1”, as usinas hidrelétricas estão gerando abaixo de suas garantias físicas. Com isso, as usinas precisam comprar energia no curto prazo, para honrar seus contratos de fornecimento de energia.

Pelas leis e contratos, caso uma usina hidrelétrica gere energia abaixo da sua garantia física, ela é penalizada e deve pagar por essa diferença. Como vimos, um dos motivos que faz com que as usinas forneçam energia abaixo da sua garantia física é a falta de chuvas e queda no volume das hidrelétricas. Uma vez que o Brasil é um país extenso e as condições climáticas são adversas, foi criado o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), em que há a possibilidade de transferência de energia de uma usina para outra. Ou seja, uma hidrelétrica que gerou acima da sua garantia física pode transferir energia para outra que gerou abaixo.

Somam-se toda a garantia física das usinas que compõem o MRE e toda a energia que foi gerada. Caso o volume elétrico gerado seja menor do que a garantia física, as hidrelétricas têm que pagar a diferença. Isto é chamado de risco hidrológico, do qual o GSF é a medida. As expectativas da variação do GSF ao longo do tempo balizaram as estratégias de contratação das geradoras.

Apesar de estar integrando cada vez maior diversidade de fontes energéticas, a matriz elétrica é composta majoritariamente por hidrelétricas. De fato, mais de 60% do parque gerador nacional é atendido por esse tipo de fonte. Assim, a questão do risco hidrológico mantém grande importância para a segurança do suprimento e para o cálculo das tarifas.

De maneira simplificada, se as bacias hidrológicas dos rios que alimentam hidrelétricas estão cheias de água das chuvas, os reservatórios das usinas estarão seguros e proverão eletricidade. Entretanto, nem sempre isso acontece, algumas regiões do Brasil são afetadas por secas, e suas hidrelétricas não podem atender totalmente o consumo. Neste caso, é responsabilidade do Operador Nacional do Sistema elétrico (ONS), que coordena a geração e distribuição de energia, autorizar a operação de usinas de maior custo, em geral, as termelétricas. Esta dinâmica tem dominado o setor elétrico brasileiro nas últimas décadas, em alguns anos com mais importância que outros.

Transformações no perfil do parque gerador brasileiro afetaram a predominância hidrelétrica, amplificando a magnitude das oscilações dos GSF a cada ano. Isso se deveu, principalmente, à interrupção na construção de novas hidrelétricas de grandes reservatórios em decorrência da forte oposição por preocupações ambientais e sociais. Esse novo arranjo de geração vem progressivamente reduzindo a capacidade de regularização hidrelétrica do sistema e aumentando o risco hidrológico.

(Fonte: CBIE)