Interferência no preço do diesel coloca em xeque venda das refinarias
<em><a href=”http://bit.ly/2VQfIzE”>Por Marta Nogueira, para Reuters</a></em>
RIO DE JANEIRO (Reuters) – O movimento da Petrobras (PETR4.SA) de cancelar alta programada para o diesel após pressão do governo pode colocar em risco os planos do atual presidente da empresa, Roberto Castello Branco, de vender uma parcela significativa das refinarias, na avaliação de analistas e agentes do mercado.
A empresa havia programado para esta sexta-feira uma alta de 5,7 por cento, após ter mantido o preço no mesmo patamar desde 22 de março. No entanto, recuou após uma ligação de Jair Bolsonaro para o principal executivo da estatal, na qual o presidente manifestou preocupação com o impacto do aumento para os caminhoneiros.
O <strong>diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires</strong>, afirmou que lamenta as notícias, citando que elas vêm após o governo ter prometido que a Petrobras teria independência para praticar preços e que eles estariam atrelados aos valores internacionais.
“Compromete, na minha opinião, o plano de venda de refinarias. Como você vai comprar refinarias no Brasil em um país onde a todo momento tem interferência?”, questionou Pires.
O mercado conta com a venda das refinarias para atrair mais competição para o setor, ampliar a capacidade de refino e também para reduzir o poder do governo nos preços dos derivados do petróleo. O desinvestimento também poderia render bilhões à Petrobras.
O episódio envolvendo Bolsonaro ainda pode reacender um debate dentro do conselho de administração da Petrobras sobre a venda ou não das refinarias.
O representante de conselheiros minoritários no conselho da Petrobras, Marcelo Mesquista, afirmou à Folha de S.Paulo que esse caso deveria reforçar a pressão da sociedade por privatização da área de refino e da própria Petrobras, já que assim a política de preços não sofreria interferência de governos.
O representante dos funcionários no colegiado, Danilo Silva, por sua vez, rebateu a fala de Mesquita em entrevista à Reuters, dizendo que “isso mostra a importância da Petrobras como instrumento público e que o povo brasileiro tem de fazer o contrário, tem que pressionar para que ela se torne uma empresa 100 por cento estatal”.
“Imagine se o mercado de combustíveis estivesse nas mãos de uma chinesa ou de uma francesa, se elas teriam alguma sensibilidade em relação à greve dos caminhoneiros”, disse.
Silva, no entanto, frisou que a utilização da empresa como instrumento de política pública precisa ser feita de forma transparente, sem sobressaltos para mercado, sociedade e gestão da empresa, “para que não se repita o erro da política de preços” do governo de Dilma Rousseff.
Procurada, a Petrobras não comentou o assunto de imediato.
<h6><strong>TRANSPARÊNCIA</strong></h6>
O professor e pesquisador do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edmar de Almeida, destacou que a falta de transparência na interferência dos preços prejudica a atração de investimentos na área de refino.
“O governo tem que decidir se acredita no mercado ou não”, afirmou Almeida, explicando que se for intervir, precisa trabalhar de forma mais transparente.
O programa de subsídio no segundo trimestre de 2018 foi muito criticado pelo mercado, mas as regras eram claras e discutidas com os agentes, destacou Almeida.
“Esse movimento de pegar o telefone e ligar para o presidente da Petrobras é o pior caminho”, afirmou, frisando ainda que será difícil a vinda de investidores, sem que haja certeza de que eles poderão praticar os preços que desejarem.
Castello Branco, um economista com pós-doutorado pela Universidade de Chicago e extensa experiência nos setores público e privado, foi uma escolha do ministro da Economia, Paulo Guedes, para presidir a Petrobras.
A Universidade de Chicago, também frequentada por Guedes, é considerada uma instituição de linha liberal.
No passado, Castello Branco foi um grande crítico das intervenções governamentais na Petrobras, incluindo na política de preços. Durante o governo de Dilma Rousseff, os preços ficavam amplos períodos sem reajuste, causando prejuízos bilionários para a estatal.
O economista também é um antigo defensor da privatização da Petrobras e, apesar de não ter a autorização do governo para realizá-la, vem prometendo um programa de desinvestimento ousado, inclusive em busca de vender uma parcela relevante do parque de refino.
Atualmente, a Petrobras tem quase 100 por cento da capacidade de refino do Brasil.
Quando afirmou, em fevereiro, que um novo modelo para venda de refinarias seria apresentado em três meses, Castello Branco defendeu um mercado competitivo e preços determinados pelo relacionamento entre fornecedores e clientes.
<h6><strong>INSEGURANÇA</strong></h6>
O presidente da Plural, associação que reúne as principais distribuidoras de combustíveis do país, Leonardo Gadotti, destacou que o mercado “estava comemorando o fato de a Petrobras ter uma política de preços moderna, com alinhamento de preços” e que agora teme a ausência de investimentos.
“Traz insegurança para esse mercado, traz insegurança para investidor”, afirmou, frisando que os investidores agora vão parar para pensar.
Analistas do UBS ponderaram em relatório que têm apoiado visão positiva sobre Petrobras, devido à geração de caixa saudável, crescimento previsível da produção e relevantes desinvestimentos.
No entanto, afirmaram que influências potenciais do governo podem causar efeitos negativos.
Dentre os possíveis impactos, os analistas do UBS citaram redução na geração de caixa, já que os preços não seriam reajustados, e a redução dos desinvestimentos, “devido à percepção de riscos associados a refino e distribuição de combustíveis”.
Após anunciar um lucro de quase de 26 bilhões de reais em 2018, o presidente da Petrobras destacou que o trabalho para melhorar os indicadores financeiros da empresa precisaria continuar firme, incluindo via desinvestimentos e foco no principal, ou seja, a produção no pré-sal.
A empresa registrou no fim de 2018 indicador dívida líquida sobre Ebitda ajustado de 2,34 vezes, inferior à meta de 2,5 vezes, e o endividamento líquido alcançou 69,4 bilhões de dólares, uma queda de 18 por cento ante 2017.
<em>(Fonte:</em> <a href=”http://bit.ly/2VQfIzE”>Reuters</a>/<a href=”https://glo.bo/2ZdhmNG”>Extra</a>/<a href=”http://bit.ly/2KJiMMQ”>Jornal do Brasil</a>/<a href=”http://bit.ly/2UCWErY”>Diário do Comércio e Indústria</a><em>)</em>