Surpresas para 2021
 
                        COVID trouxe incerteza ao setor de energia
Normalidade causará boom nas commodities
Saiba qual impacto isso terá para o Brasil
A pandemia do coronavírus (COVID-19) causou um comportamento dos mais atípicos no mercado do petróleo em 2020. O ano começou com um grande desacordo na Opep+ em torno das cotas de produção entre a Arábia Saudita e Rússia, fazendo com que os contratos do Brent e do WTI atingissem máximas recordes. Entretanto, com a aceleração da pandemia ocorre uma reversão nos preços atingindo quedas nunca vistas anteriormente.
As medidas de distanciamento social e de restrição à mobilidade provocaram uma forte queda no consumo de combustíveis, em particular, no setor de transporte. Com a queda na demanda e o aumento nos estoques de petróleo, o contrato futuro do petróleo fechou em campo negativo. O fato inédito ocorreu em 20 de abril, quando venceram os contratos de maio do petróleo tipo West Texas Intermediate (WTI), negociado nos Estados Unidos, com o preço de US$ -37,63 o barril, uma queda de mais de 300%. Mesmo o Brent chegou a ter sua cotação abaixo dos US$20/barril.
Nesse momento, começa a se verificar que as brigas entre a Rússia e a Arábia Saudita não mais determinavam os níveis de preço do barril e sim as medidas sanitárias para conter o espalhamento do vírus. Pela primeira vez na história tivemos o preço do barril do petróleo determinado por questões de saúde publica e não por razões econômicas.
Em função disso, a Opep+ muda a sua estratégica adotando a tradicional redução da produção através de cotas por país membro. A partir de então, decidiram, em abril, pelo corte de 9,7 milhões de barris por dia (b/d) na produção dos meses de maio e junho de 2020. Em agosto, o grupo decidiu reduzir o nível dos cortes de produção para 7,7 milhões de b/d, ao constatarem sinais de melhora à medida que as economias em todo o mundo começaram a voltar a se abrir.
Todo esse cenário, apontava para que tivéssemos uma recuperação muito lenta do preço do barril em 2020. Entretanto, com a reabertura da economia no verão do Hemisfério Norte, interrompendo o isolamento houve uma retomada da economia e do consumo do petróleo que surpreendeu o mercado. Entre junho e janeiro/2021, o preço do Brent teve crescimento superior a 40%, com o barril superando os U$S 55. Ou seja, apesar da queda da taxa de crescimento da economia mundial, o comportamento dos preços do petróleo e mesmo de outras commodities acabaram por atingir preços que ninguém imaginava no começo da pandemia.
Com a chegada das vacinas somada à vitória democrata na presidência dos Estados Unidos, inclusive no Senado, melhoraram as perspectivas de crescimento da demanda mundial de petróleo para 2021. O preço do petróleo iniciou 2021 acima dos US$ 50/barril.
Diante desse cenário, a Opep+ acordou reduzir os cortes para 7,2 milhões de b/d a partir de janeiro de 2021. Para os meses seguintes, o grupo ajustará gradualmente os seus cortes de produção para equilibrar o mercado. A perspectiva é de que, em 2021, o petróleo continue subindo, atingindo um preço médio US$ 60/barril e possivelmente picos de mais de 70 dólares no segundo semestre.
A incerteza sobre a duração da pandemia, seus impactos econômicos e sociais e as respostas políticas abriram uma gama de possibilidades para o futuro da energia. Na busca de soluções aos efeitos da pandemia, foram diversas as reflexões sobre o futuro da energia e o pico da demanda de petróleo. A grande aposta nas diversas análises e projeções seria o aumento da velocidade da transição energética.
A longevidade da pandemia e necessidade de uma recuperação econômica de forma mais rápida, afinal o mundo inicia 2021 muito mais pobre, torna questionável o movimento de aceleração desta transição. A ampliação dos esforços para a vacinação em massa impulsionará a retomada da atividade econômica com consequente necessidade do aumento do consumo de energia. E a energia que poderá atender de formas mais rápida, mais eficiente e mais barata são os fósseis, em particular o petróleo.
O tão desejável retorno da normalidade em 2021 trará de volta um boom das commodities, como ocorreu no pós crise de 2008. Para o Brasil esse boom de commodities tem dois aspectos. A nível de exportações e balança comercial os resultados serão ótimos. Afinal, somos grandes exportadores de commodities. Já somos o maior exportador de petróleo da América Latina. A nível de mercado interno podemos ter problemas inflacionários e precisamos de políticas econômicas adequadas diante desse cenário. Preocupa a volta de fantasmas no mercado de petróleo nacional: o fantasma da defasagem dos preços dos derivados com a gasolina e diesel e o fantasma da volta da política de conteúdo local dentro da lógica daninha de reserva de mercado.

 Espaço Adriano Pires
 Espaço Adriano Pires  19 de Jan de 2021
 19 de Jan de 2021