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Os caminhões a GNL modernos funcionam de maneira muito parecida com motores de combustão interna movidos a diesel tradicionais. O GNL é o gás natural resfriado e armazenado criogenicamente em forma líquida e reduzido a seiscentas vezes o volume de gás natural em temperatura ambiente, pode ser utilizado diretamente como combustível para motores de grande porte. Armazenado em tanque de combustível especial, o GNL entra nos cilindros controlado por um sistema eletrônico de injeção, onde acontece a ignição por centelha, gerando a força mecânica a ser transmitida para os pneus.

As peças principais usadas nos motores de um caminhão a GNL podem ser observadas pela Figura 1. A bateria é usada para ligar o motor como em motores a diesel. Uma mangueira de borracha ou tubo de aço (ou combinação dos dois) transporta o GNL do tanque de combustível para o motor. O módulo de controle eletrônico (ECM) controla a admissão de combustível no cilindro e sua mistura com ar, além do movimento dos pistões e o acionamento das velas de centelhas. Por fim, o sistema de exaustão (cano de descarga) filtra os gases a serem emitidos após o uso no motor.

Figura 1: Esquema de um Motor de Caminhão a GNL

Fonte: Departamento de Energia dos Estados Unidos – Secretaria de Eficiência Energética e Renováveis

Em termos de potência (em geral de 400 a 450 cavalos), torque e eficiência energética, o caminhão a GNL é bastante competitivo com o diesel¹. Por ser líquido, a densidade energética do GNL é muito maior que o gás natural veicular (GNV) ou gás natural comprimido (GNC). O gás liquefeito fica armazenado em um tanque de combustível a uma pressão atmosférica de 4 a 10 bar e uma temperatura interna entre -175 °C e -100 °C. Dependendo do modelo, a capacidade do tanque é equivalente a 125 e 450 litros de diesel². Este tipo de caminhão é vantajoso por dois motivos: a redução de emissão de gases de efeito estufa e o aumento de autonomia. Calcula-se que caminhões a GNL reduzam as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 20%³ em comparação com motores a diesel e que as distâncias máximas de transporte sem necessidade de reabastecimento alcancem 1.000 quilômetros. O tempo de reabastecimento completo dos tanques de GNL é semelhante ao do diesel. Comparado a outros combustíveis em termos de segurança, o GNL é bastante seguro quando todas as boas práticas e regulamentos básicos são seguidos.

A indústria do GNL já existe desde a década de 1960, mas a recente evolução tecnológica da liquefação do gás natural e a conjuntura de preços baixos do energético na última década criaram um ambiente propício para sua adoção comercial em escala industrial. Muitos países adotaram uma estratégia de desenvolvimento da solução logística de caminhões a GNL e da infraestrutura de rede de distribuição necessária para que funcione. Foram implementadas nas regiões mais desenvolvidas do mundo, por onde são formados grandes corredores de transporte de cargas por terra, sistemas logísticos para os caminhões a GNL que são chamados de “corredores azuis”. Países em que isto já ocorreu ou está ocorrendo são os Estados Unidos (Califórnia), China e por toda a União Europeia, como observado na Figura 2.

¹ O Departamento de Energia dos EUA compara o desempenho de caminhões a GNL às Classes 7 e 8 de caminhões a diesel, as maiores da classificação oficial por peso da carga.

² Segundo dados da empresa canadense Westport, fornecedora de sistemas de GNL para caminhões.

³ De acordo com estudo seminal da Agência de Proteção Ambiental dos Estados de 2007. O efeito sobre a emissão de óxidos de nitrogênio, mais significativos para poluição local por seu papel na formação de chuva ácida, foi calculado em uma redução de 33% em relação a motores a diesel.

Figura 2: Infraestrutura para Transporte de Carga usando Caminhões a GNL – Corredores Azuis na Europa

Fonte: Comissão Europeia – Sistema de Informação e Monitoramento de Pesquisa e Inovação em Transportes

No Brasil, a tecnologia está em fase embrionária e grandes investimentos estão sendo projetados para instalar “corredores azuis” próximos aos terminais de GNL na costa brasileira. A Golar Power, joint venture formada pelo grupo norueguês Golar e o fundo americano Stonepeak, com investimentos de R$ 7 bilhões no Brasil, tais como o terminal privado de regaseificação de GNL em Sergipe, firmou parceria com a empresa de logística Alliance GNLog para a criação de uma infraestrutura de abastecimento de caminhões movidos a GNL no país. A meta é chegar a mil unidades de caminhões a GNL até o fim de 2020 com investimento de US$ 120 milhões. O projeto prevê a instalação de 35 postos de abastecimento, em onze eixos rodoviários onde há fluxo intenso de escoamento de carga.

Em novembro, governadores de estados do Nordeste discutiram com a Golar Power a possibilidade de implantação de um projeto de integração do Nordeste “Rota Azul”, nos moldes de como foi feito na União Europeia. A Golar Power também tem planos de transportar GNL por cabotagem em navios de pequena escala para toda a costa brasileira em suporte à estratégia de ampliar a rede de abastecimento do energético.

(Fonte: CBIE)