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Como os tanques de armazenagem convencionais são muito pequenos e requerem uma manutenção cuidadosa para manter a alta pressurização necessária, só são usados perto de centros de consumo para exigências de curto prazo. Assim, instalações de armazenagem de gás natural subterrâneas em campos depletados são uma parte integral da infraestrutura da indústria contemporânea de gás, sendo usadas para balancear a sazonalidade da demanda e dar segurança ao suprimento em caso de choques na oferta. O uso dos reservatórios de campos depletados para armazenagem de gás são a maneira mais barata de guardar grandes quantidades de gás natural a longo prazo, seguido do uso de aquíferos e cavernas artificiais de sal, conforme descrito na Figura 1.

Figura 1 – Tipos de Armazenagem Subterrânea de Gás

Fonte: Reprodução

No final de 2017, 45 novos projetos de armazenagem de gás estavam em construção no mundo, com capacidade total aproximada de 35 bilhões de metros cúbicos (m³). Na experiência internacional da indústria do gás, os Estados Unidos são o de longe o país mais importante em termos de capacidade de armazenagem de gás instalada, com 140 bilhões de m³ de um total global de cerca de 450 bilhões de m³. Os EUA são um país de largas dimensões e com um mercado de gás expandido e capilarizado, o que explica porque das quase 700 instalações de armazenagem de gás natural subterrâneas existentes no mundo, cerca de 400 se encontram nos EUA, sendo 80% em campos depletados, 10% em aquíferos e 10% em cavernas de sal. Com recordes de demanda e altos preços do gás em décadas passadas, os EUA construíram uma capacidade de armazenamento enorme, atingindo um recorde histórico, conforme observado na Figura 2:

Figura 2 – Mapa de Instalações de Armazenagem de Gás nos EUA

Fonte: EIA – 2015

Os EUA chegaram a um ponto em que são capazes de restaurar rapidamente o estoque de armazenamento de volta aos níveis normais, mesmo depois de um choque de demanda causado por um inverno mais rigoroso. Em média, cerca de 70 bilhões de m³ de gás são produzidos e armazenados a cada ciclo anual nos EUA com armazenagem utilizada alcançando cerca de 105 bilhões de m³ no início do inverno em outubro e caindo para cerca de 35 milhões de m³ no fim do inverno em abril.

Além disso, devido ao crescimento excepcional da produção de shale gas e ao crescimento moderado da demanda, as instalações de armazenamento naquele país estão mais do que adequadas atualmente. Por exemplo, mesmo com as condições extremas do inverno de 2013/2014, os níveis de estoque de armazenamento dos EUA se recuperaram rapidamente para dentro da faixa normal para a temporada de inverno seguinte.

Outros países importantes na indústria de armazenagem de gás natural estão a Rússia em segundo lugar global, com mais de 70 bilhões de m³ de capacidade de armazenagem de gás, seguida por Ucrânia, Canadá e Alemanha, com 32, 27 e 24 bilhões de m³ respectivamente. A China é um país que planeja expandir sua capacidade de armazenagem em escala enorme, fazendo uso de reservatórios terrestres depletados, dentro de sua estratégia de substituição de matriz energética dependente de carvão por gás. Estes países utilizam campos depletados terrestres para armazenagem de gás, exceto pela Alemanha, que usa cavernas de sal artificiais por não ser um país tradicionalmente produtor de óleo e gás e sim um grande importador. Um país com experiência no uso de campos offshore depletados é o Reino Unido, onde instalações deste tipo já estão em existência, conforme representado na Figura 3, e novos projetos estão em fase de analise ou construção.

Figura 3 –Instalações Offshore de Armazenagem de Gás Natural

Fonte: Reprodução

O desenvolvimento do Pré-sal vai ampliar a oferta de gás associado no Brasil próximos anos e a abertura para concorrência com a Petrobras no downstream traz a possibilidade de desenvolvimento sustentável do mercado doméstico de gás, cuja evolução está apresentada na Tabela 1. O crescimento do mercado de gás natural traz alguns desafios. Um deles é equacionar a questão de demanda e oferta em uma escala em que nosso país ainda não alcançou, de modo que usar a experiência internacional e a tecnologia de ponta da indústria é indispensável. O país precisa modernizar a infraestrutura para que a produção e a distribuição aos centros de consumo cresçam em paralelo. Para isso, é de interesse incentivar projetos para reservatórios de campos depletados que possam ser usados como armazenagem de gás.

Tabela 1 – Evolução de Oferta e Consumo de Gás Natural no Brasil

Fonte: MME – Boletim de Produção de Gás Natural

Um projeto para armazenagem no Campo de Merluza na Bacia de Santos, com capacidade estimada de pelo menos 10 bilhões de m³, é um interessante candidato, por estar conectado por gasodutos de escoamento já construídos ligados ao centro de consumo da Região Sudeste pela UPGN de Cubatão. Outra solução para excesso de gás é a reinjeção para armazenamento no próprio reservatório do campo que estiver produzindo, se não houver consumo para o mesmo, como ocorre nos campos da Amazônia. Projetos deste tipo são de interessante nacional para evitar que o gás associado do Pré-sal tenha que ser exportado, por exemplo, e não incentivo o desenvolvimento do nosso mercado no longo prazo.

Para o caso brasileiro dar certo, no entanto, é necessário regulamentar a criação da figura do “Armazenador” de gás natural. Este agente econômico, sob a regulação da ANP, poderá construir e operar reservatórios em campos depletados para a armazenagem de gás e comercializar o energético através de contratos de suprimento, contribuindo para a robustez do mercado nacional de gás.

(Fonte: CBIE)