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Não podemos deixar de lado a importância do crescimento econômico, da segurança energética e de alimentar e a acessibilidade à energia das camadas de mais baixa renda

A discussão sobre transição energética mudou de foco. E parece que muita gente continua míope. No período que antecedeu a pandemia de covid-19 havia um açodamento em realizar a transição energética, e esse pensamento linear trouxe uma grande campanha de demonização dos combustíveis fósseis e da energia nuclear.

Essa campanha tomou vulto maior que o esperado e acabou por direcionar os investimentos das majors do petróleo para as energias renováveis eólica e solar, principalmente por empresas europeias. Os eventos e as reuniões ao redor do planeta sobre o clima tinham uma mensagem de que as energias renováveis seriam capazes de suprir com segurança a demanda por energia. A pandemia e o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia fazem com que se comece a questionar a maneira linear como estava sendo conduzida a transição energética e trazem para a mesa uma abordagem mais coordenada e equitativa.

Nos últimos 15 anos o custo dos painéis solares caiu algo como 90% Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A primeira conclusão que muda o mainstream do pensamento sobre como encarar as mudanças ambientais é que não se faz transição segura e equitativa substituindo ou mesmo eliminando a oferta de fontes de energia. Ao contrário, as energias renováveis não terão o papel de substituir os combustíveis fósseis na transição, e sim aumentar a diversidade da matriz energética mundial. Com certeza, veremos soluções regionais de acordo com as vantagens comparativas, que também serão acompanhadas de novas tecnologias.

Por exemplo, nos últimos 15 anos o custo dos painéis solares caiu algo como 90%.

Outro ponto relevante é que o custo da transição energética é muito alto. A magnitude disso seria um custo médio em torno de 5% ao ano do PIB global no período de 2025 a 2050. Em outras palavras, alcançar o net zero vai exigir uma reorganização do fluxo de capital Norte/Sul sem precedentes na história mundial. Tudo isso inaugura uma nova fase de discussão sobre a transição energética, clima e energia, e o nome do jogo passa a ser segurança energética e energy addition.

Mudamos o vetor da discussão. Mas por que mudamos? A escala e a variedade de transformações associadas com a transição significam um processo multidimensional que apresentará diferentes mixes de tecnologias e novas prioridades em diversas regiões do mundo. Uma transição linear definitivamente não é possível. Isso porque um processo dessa magnitude sempre envolverá significativos trade-offs.

Não podemos deixar de lado a importância do crescimento econômico, da segurança energética e de alimentar e a acessibilidade à energia das camadas de mais baixa renda. Temos de promover uma transição que traga benefícios para os países mais pobres, que ficaram à margem das grandes mudanças e transformações que ocorreram no mundo, onde os aquinhoados sempre foram os países ricos.

E o Brasil, como fica? O Brasil precisa usar e aproveitar toda a sua diversidade energética e deixar de lado os discursos de uma elite atrasada e míope guiada por ONGs internacionais que defendem não explorar a Margem Equatorial.

Publicado originalmente pelo Estadão.