Brasil tem oportunidade real para expandir mercado de gás

Temporada de revisões tarifárias é grande oportunidade para atrair investimentos no setor

O país ainda espera medidas mais assertivas para resolver os nós que travam o desenvolvimento de seu mercado de gás.
São entraves que amarram a competitividade em elos da cadeia produtiva, principalmente nas etapas de escoamento, processamento do gás natural e transporte por gasodutos. Muitos desses avanços dependem de uma atuação mais célere da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
Enquanto isso, os avanços têm ocorrido na comercialização e na distribuição de gás.
Na comercialização, com a crescente migração para o mercado livre de gás. Estima-se que quase 1/3 do volume industrial já tenha tomado a decisão de sair do mercado cativo para o ambiente livre, em busca de condições mais flexíveis e competitivas de contratação de molécula de gás.
Na distribuição, as concessionárias multiplicaram todos os seus indicadores, saindo de 19.313 km de rede em 2010 para 45.052 km ao final de 2024 (crescimento de 133%), enquanto os gasodutos de transporte tinham 9.295 km e passaram para apenas 9.445 km (só 1,6%).
Essa escalada tem sido mais expressiva em Estados com agências reguladoras com perfil mais técnico, autônomo, transparente –o grande exemplo talvez seja São Paulo, onde a concessão à iniciativa privada e uma regulação comprometida com a segurança energética promoveram uma grande transformação em 25 anos, e a expectativa é que esse ritmo se mantenha.
Em 2025, muitas das concessões estaduais passam por um período de revisão tarifária. É um processo de rotina na vida regulatória dos Estados, mas que sempre apresenta uma oportunidade para impulsionar uma nova onda de desenvolvimento regional, principalmente com o advento do biometano.
Um lugar que merece atenção é o Espírito Santo, que tem uma posição de protagonismo no mercado livre, com 85% do volume industrial migrado, mas que ainda conta com uma infraestrutura de gás aquém de seu potencial.
A distribuidora local apresentou um plano de negócios com aportes de R$ 1 bilhão em 5 anos. Desse montante, R$ 470 milhões são iniciativas para ampliação do acesso ao gás natural e ao biometano.
A proposta consiste em conectar 90.000 novos consumidores, um crescimento de 50% da base atual de clientes, com ganhos em segurança, eficiência e descarbonização –a concessionária local acaba de anunciar seu 1º contrato para injeção de biometano na rede de distribuição no Estado.
Oportunidades surgem para não serem desperdiçadas. O período de revisão tarifária é a hora certa para viabilizar a execução de planos de investimentos que combinem modicidade tarifária com os recursos essenciais para expandir e melhorar a infraestrutura.
Sem isso é impossível garantir segurança de abastecimento, inovação e uma prestação de serviços com a qualidade exigida pela sociedade.
Só com essa visão prospectiva será possível dar um passo para a democratização energética, levando os benefícios do gás para todos os segmentos.