Campos maduros do pós-sal são uma oportunidade, escreve Adriano Pires
 
                        Adriano Pires, para o Poder360

Petrobras deveria vender os campos terrestres e os maduros e se concentrar na produção de petróleo do pré-sal, diz Adriano Pires
A indústria do petróleo e gás natural passa por seu último ciclo de protagonismo na matriz energética mundial. A previsão é que a nova matriz será mais diversificada com a presença cada vez maior das energias limpas e renováveis.
As razões para isso são as exigências ambientais e o fato do crescimento econômico do futuro ser cada vez menos baseado em indústrias grandes consumidoras de óleo e sim nas de serviços e nas empresas de alta tecnologia. O século XX foi marcado pela indústria do automóvel devido a petróleo barato, já no século XXI as principais empresas são a Google, a Apple e outras.
Diante desse cenário, temos de aproveitar os próximos 20 a 30 anos para transformar o petróleo e o gás natural numa riqueza que possa ser aproveitada pela sociedade. Essa é a estratégia do governo americano ao criar políticas e oportunidades para que as empresas invistam em grande escala na exploração de shale oil e shale gas.
Com isso, os EUA se tornaram nos últimos anos os maiores produtores mundiais, ultrapassando Arábia Saudita e Rússia, e em breve serão um grande player na exportação, a despeito de serem o maior consumidor de petróleo e gás do mundo.
O Brasil precisa ficar atento a esses movimentos e não perder a oportunidade de se transformar num grande produtor de petróleo e gás. No Brasil atualmente estamos produzindo petróleo e gás em campos terrestres (onshore) e campos marítimos (offshore), estes divididos entre os de águas rasas e os de águas profundas.
A produção onshore é mais barata, de menor complexidade e fácil acesso, seguida pela exploração em águas rasas. A operação em águas profundas, onde ficam os enormes campos do pré-sal, demandam maior investimento em tecnologia avançada para perfuração a grandes distâncias da costa exigindo uma logística complexa.
O Estado do Rio de Janeiro por décadas tem sido o maior produtor do Brasil e continuará sendo, graças aos novos campos no pré-sal. A exploração comercial do pré-sal pela Petrobras e seus parceiros, que começou em 2010, sustenta desde 2017 mais de 50% da produção total brasileira. Grande parte destes campos do pré-sal são confrontantes ao estado do Rio, incluindo Lula, Libra e os da Cessão Onerosa.
O Brasil perdeu muito tempo para começar a explorar o pré-sal, pois entre sua descoberta em 2007 no governo PT e o primeiro leilão do pré-sal se passaram seis anos. É importante observar que se não fosse o pré-sal, a produção brasileira estaria declinando.
Entretanto, um assunto que foi deixado de lado com a entrada e o protagonismo do pré-sal é a produção nos campos maduros do pós-sal na Bacia de Campos. A produção proveniente de campos maduros declinou em torno de 30% nos últimos cinco anos. Municípios como Campos e Macaé que confrontam grandes campos do pós-sal como Albacora e Roncador perderam muita receita de Royalties e Participações Especiais. A taxa de declínio de 12% ao ano na Bacia de Campos é muito alta quando comparada a do Mar do Norte, Noruega e Inglaterra que possuem uma taxa de declínio médio de 5% ao ano.
Para incentivar a exploração de campos maduros precisamos tomar algumas medidas e decisões, onde o principal beneficiário é o Estado do Rio de Janeiro. Até agora, a mais importante foi a Resolução ANP nº 749/2018, que reduz a alíquota de royalties de 10% para até 5% sobre a produção incremental.
O tratamento tributário diferenciado vai ajudar a atrair investimentos de petroleiras especializadas em recuperação da produção de campos maduros. Não faz sentido a Petrobras investir na recuperação de campos maduros quando a empresa possui ativos lucrativos do pré-sal. Não existe nenhum investimento a longo prazo mais lucrativo do que o pré-sal brasileiro.
Portanto, a Petrobras deve vender os campos terrestres e os maduros e se concentrar na produção de petróleo do pré-sal. A Petrobras acertadamente está seguindo essa estratégia oferecendo esses campos no seu do Plano de Desinvestimento. É o chamado Projeto Topázio e Ártico.
No entanto, o processo de venda de campos maduros na Bacia de Campos está muito lento. Já se passaram dois anos e muito pouco foi vendido. Uma sugestão para acelerar a venda destes ativos seria a Petrobras devolvê-los para a ANP e a agência licitar. Desde o primeiro leilão em 1999 a ANP tem um histórico de sucesso na oferta de blocos exploratórios. A recuperação dos campos maduros da Bacia de Campos é fundamental para o Rio de Janeiro, pois tem o potencial de trazer rapidamente renda e empregos, elevando a arrecadação de Royalties e Participação Especial.
Adriano Pires
Adriano Pires é sócio fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII (1987), Mestre em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ (1983) e Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1980). Atua há mais de 30 anos na área de energia.

 Espaço Adriano Pires
 Espaço Adriano Pires  28 de Maio de 2019
 28 de Maio de 2019