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Entrevista do professor Adriano Pires ao jornal Valor Econômico (Fonte: Valor)

Por Carlos Vasconcellos | Para o Valor, do Rio

O Brasil tem uma grande oportunidade para a indústria de petróleo com a recuperação de campos maduros. Hoje, a indústria mundial opera com uma taxa média de 30% na recuperação desses campos, com volumes ainda mais altos em países como a Noruega. No Brasil, esse número fica em torno de 20%, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Mas alguns especialistas trabalham com percentuais entre 10% a 15%.

A ANP considera campos maduros as áreas de produção com mais de 25 anos de atividade ou com 70% do potencial exaurido. Estima-se que o investimento em recuperação aumente em 3,5 vezes e meia a produção nessas áreas, o que representaria um incremento de 400 mil barris diários na produção nacional.

Carlos Eduardo Ferreira, diretor da consultoria Solução Energia, observa que o salto de produtividade pode ser ainda superior. “A Petroreconcavo, na Bahia, opera campos maduros da Petrobras, por meio de contrato de performance e consegue uma produção 11 vezes maior”, diz.

Apesar disso, houve pouco avanço nos processos de licitação dos campos maduros. Desde 2012, a ANP vem tentando licitar áreas maduras, sem sucesso. A tentativa mais recente foi em 2018, mas as vendas de áreas de exploração em águas rasas na Bacia de Campos, para a Perenco, e do polo de Riacho da Forquilha, no Rio Grande do Norte, para a 3R Petroleum, foram questionadas na Justiça e o fechamento dos contratos é incerto.

Enquanto isso, a agência tenta tornar os campos maduros mais atraentes, propondo reduzir a alíquota dos royalties sobre a produção excedente. A medida é considerada positiva por especialistas, mas as empresas e a própria Petrobras pedem que a redução seja estendida para a produção total dos campos maduros.

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a redução é um incentivo importante, mas o que vai realmente impulsionar a produção nos campos maduros é colocar as áreas nas mãos certas. “São áreas que não interessam à Petrobras. Para ela, vale muito mais a pena investir no Pré-Sal. No entanto, essas áreas podem ser interessantes para empresas de menor porte”, explica. Ele nota que, mesmo com a redução na alíquota, o volume de royalties arrecadado poderia crescer devido ao aumento da produção.

Luciano Garcia, conselheiro da Associação dos Engenheiros da Petrobras, acha que a revitalização dos campos maduros é indispensável e calcula que, só na Bahia, seria possível crescer a produção de 30 mil para 100 mil barris diários em pouco tempo. Ele defende que as licitações sejam feitas por meio de contratos de produção, campo a campo, e não por meio da venda de concessões em grandes blocos – modelo que permitiria a participação de pequenos players.

Outro argumento em favor da exploração dos campos maduros é que o abandono dessas áreas tem um alto custo. Ao todo, a Petrobras possui cerca de 300 campos nessas condições. “Levando em conta o custo médio internacional de US$ 100 mil para o fechamento de um poço, essa conta poderia representar um passivo de US$ 6 bilhões para a Petrobras”, conclui Ferreira, da Solução Energia.

 

Fonte:  Valor Econômico