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Governo Biden busca protagonismo

Gás natural é a energia da transição

 

Com a realização da reunião Leaders’ Climate Summit, a Cúpula de Líderes sobre o Clima, o presidente Biden cumpriu mais uma promessa da sua campanha e se projeta como uma grande liderança mundial dos próximos anos. A pandemia trouxe para o centro de debate duas questões. A 1ª é a preservação do meio ambiente, chamando a atenção para as consequências graves que podem atingir a humanidade com as mudanças climáticas. A 2ª questão é a concentração de renda: os pobres ficaram miseráveis e os ricos mais ricos.

A preocupação com o meio ambiente tinha perdido um pouco o foco com o negacionismo liderado pelo ex-presidente Trump. Durante o governo Trump, os Estados Unidos abandonaram o Acordo de Paris. Agora, com a eleição de Biden, o país volta com força e com metas mais ambiciosas do que as colocadas no governo Obama.

Um dos focos principais que vão permitir atingir essas metas é o setor de energia. A chamada transição energética até aqui tem tido como grande estrela o gás natural, que é reconhecido como a ponte para uma matriz com emissão zero. O mundo foi e ainda é dominado pelo consumo das fontes fosseis: petróleo e carvão. Uma característica nos últimos 2 séculos foi o monopólio do carvão mineral, que viabilizou a Revolução Industrial inglesa, e o petróleo, grande responsável pela hegemonia política e econômica dos Estados Unidos.

As transições energéticas são lentas. Foi assim com o carvão para o óleo e o próprio crescimento do gás natural na matriz energética mundial. O protagonismo do gás natural na matriz energética mundial tem duas explicações: o fato de ser a energia fóssil mais limpa e o aumento da sua oferta em função da tecnologia da liquefação e do surgimento da produção shale gas (gás de xisto) no mercado norte-americano. Isso possibilitou uma queda no preço do gás, descolando a sua trajetória dos preços do petróleo.

Nos Estados Unidos, o gás substituiu o carvão nas térmicas e agora começa a competir com o diesel como combustível para caminhões, navios e trens. Porém, diferentemente do carvão e do petróleo, o gás não tem e nem terá posição monopolista na oferta de energia. A tendência é termos matrizes cada vez mais diversificadas que aproveitem as vantagens comparativas como produtoras de energia das diferentes regiões do mundo.

Mas porque o gás é a energia da transição? Porque as energias renováveis, como a eólica e a solar, que são as grandes apostas do Plano Biden, têm como característica serem intermitentes e, no curto e médio prazo, vão atingir no máximo 20% da matriz energética mundial. Além disso, com o processo de eletrificação do mundo, um dos desafios será aumentar o consumo per capita de energia dos países mais pobres. Nesse caso a solução são as térmicas, o gás natural e as nucleares. O gás funcionaria como uma espécie de bateria virtual para as renováveis, garantindo a segurança de abastecimento. As baterias capazes de armazenamento hoje ainda são muito caras. A energia nuclear também deve ser a solução na configuração atual em que há a busca pela redução de emissões em prol do clima global, ao tempo em que garante a resiliência do sistema elétrico, que dará suporte ao processo de eletrificação.

Outro fato a ser destacado é que as transições energéticas se darão em tempos distintos nas várias regiões e países do mundo. E isso está diretamente ligado ao nível de renda e ao consumo per capita de energia por região do mundo. O mundo é muito desigual e, nesse contexto, o maior esforço para reduzir as emissões obrigatoriamente tem de vir dos países ricos, que também são os principais emissores. Enquanto o Brasil é responsável por 3% das emissões, os Estados Unidos, 15%, e a China, 28%.

Diante disso, a agenda ambiental precisa andar de mãos dadas com uma agenda que combata e crie soluções para desconcentrar a renda e eleve o consumo per capita de energia para os países mais pobres. Da mesma forma que temos de preservar o meio ambiente, temos de dar uma condição digna e qualidade de vida para todos no planeta. Existe uma correlação direta entre o consumo de energia e a qualidade de vida das populações. A solução ambiental, assim como a de uma melhor distribuição de renda, tem de ser global, precisa atingir a todos. Caso contrário, por melhor que sejam as intenções de diferentes governos, das grandes empresas e dos fundos de investimento, vai crescer o abismo climático –e o social– entre países ricos e pobres.

 

 

Fonte: Poder 360