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Por Adriano Pires para o Estado de S. Paulo.

Nas últimas semanas, presenciamos uma discussão acalorada sobre a Amazônia. Os debates ganharam as páginas da imprensa internacional e muitas vezes se perdeu a cortesia, inclusive, entre chefes de estado. A discussão sobre a Amazônia sempre trás junto a questão ambiental, na medida que a sua preservação seria essencial para se garantir as metas colocadas sobre o aquecimento do planeta. Durante essas semanas, o Brasil foi acusado de adotar políticas ambientais equivocadas. Na realidade, o Brasil hoje é um dos países que mais colabora para a redução de gases de efeito estufa através de uma matriz energética das mais limpas do mundo, devido a uma expressiva participação das chamadas energias renováveis.

Vamos aos números.

A matriz energética brasileira possui forte presença das fontes renováveis, sobretudo hidráulica e biomassa, que representaram 45,3% da oferta total em 2018, as mudanças se ampliam com o crescimento das energias eólica e solar. O desafio continua sendo reduzir a participação dos combustíveis fósseis, em particular o diesel, essencial para o setor de transporte de cargas e passageiros. Nos últimos 10 anos, a participação dos derivados de petróleo teve queda de 3,5 pontos percentuais, evidenciando um maior incentivo do Brasil ao aumento das fontes renováveis na matriz. Agora com o crescimento do gás natural oriundo do Pré Sal, poderemos substituir o diesel em caminhões, navios por Gás Natural Liquefeito, como vem ocorrendo na China e nos Estados Unidos.

A matriz energética mundial possui apenas 13,7% de participação das renováveis. No bloco da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) somente 9,7% da matriz é renovável, enquanto nos demais países não-membros, essa participação é de 16,3%.

No Brasil a geração de eletricidade tem a predominância da fonte hídrica (66,6%). A geração de eletricidade no país conta com 83,2% de fontes renováveis contra 23,8% nos países da OCDE e 24,0% no restante do mundo.

No mercado internacional, potências como Estados Unidos e França chamam a atenção pela baixa participação de energia renovável na matriz. Nos Estados Unidos as fontes renováveis respondem por 11% da matriz, sendo o petróleo e o gás natural as fontes de destaque na matriz (36% e 31%, respectivamente). Os combustíveis fósseis sempre foram predominantes na matriz norte-americana, mas nos últimos anos a produção de petróleo e gás natural norte-americana está no topo do ranking mundial impulsionada pela Revolução do Shale.

Na Europa, a Alemanha é o país cuja oferta de renováveis mais se aproxima da brasileira com uma participação de 34,9%. Já na França, as renováveis representam 9,4% da matriz, onde a predominância é de fonte nuclear (42%) seguida do petróleo (30%). A matriz elétrica francesa é majoritariamente nuclear (72%).

O carvão, uma das principais energias responsáveis pelo aquecimento do planeta, tem baixa participação na matriz brasileira (5%), enquanto China 72%, Alemanha 35,4%, EUA 13%.

O aumento da participação das fontes de energia limpas é uma realidade nas matrizes de energia dos países. O Brasil e líder nesse processo, somos responsáveis pela produção de 7,2% de toda energia renovável mundial.

O crescimento da oferta de energia renovável veio para ficar, diante da necessidade de se cuidar melhor do planeta. Entretanto os caminhos da energia, tanto a nível da entrada de novas fontes limpas como de novas tecnologias de produção e uso, são tortuosos. Como mostra o exemplo da China, não é nada fácil associar no curto prazo aumento da participação das energias limpas com a necessidade de crescimento econômico e geração de empregos.

O Brasil tem uma das matrizes mais limpas, devido as hidrelétricas, biomassa (etanol e biodiesel) e agora ao crescimento das fontes eólicas e solar. Nos próximos anos o gás natural será abundante com a produção do pré sal. Portanto, continuaremos a ter uma matriz diversificada e limpa, dando exemplo para o mundo de como cuidar do meio ambiente.

(Fonte: Estadão)

Adriano Pires é sócio fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).