Post

Blecaute deve ocorrer se crescimento econômico for alto ou se houver redução no nível atual de chuvas

Alexandre Leoratti e Bernardo Gonzaga para o Poder360

O Brasil está próximo de enfrentar um blecaute ainda em 2021. O apagão deve acontecer se a média de longo tempo de chuvas ficar abaixo dos 61,5%. O cálculo é do CBIE Advisory (parte integrante do Centro Brasileiro de Infraestrutura) com dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). O 1º semestre fechou com o indicador em 66%. Nota do ONS (íntegra) mostra que o percentual pode cair para 62% na 6ª feira (16.jul).

O percentual do MLT (Média de Longo Termo) é utilizado para monitorar o histórico de chuva no país desde 1931. Se estiver abaixo dos 100%, significa que chove menos do que a média histórica no país. O índice de chuva de 2021 é o menor em 20 anos. Até maio de 2021, o índice estava em 63%, apenas 1,5 ponto percentual acima do limite para haver um apagão no país Ao mesmo tempo, o consumo energético até abril alcançou 169 mil GW, o maior desde 2004, segundo o ONS.

O cálculo do CBIE considera um crescimento do PIB de 2,7%, menor do que a projeção mais recente do Banco Central (4,6%). Em nota, o Ministério de Minas e Energia afirmou que a análise do ONS leva em conta um crescimento de 3% da economia e não indica deficits de energia ou potência. Cita o plano do governo para redução de vazão das usinas.

Segundo Bruno Pascon, sócio-fundador e diretor da CBIE Advisory, um crescimento maior do PIB, como o esperado para 2021, significa que o risco de apagão é maior, ou seja, precisaria chover ainda mais para evitar o blecaute.

“Apagões de potência, que são cortes pontuais de energia nos horários de pico de consumo, podem acontecer já a partir de agosto deste ano. A discussão que existe é se haverá necessidade de medidas de racionamento de consumo mandatórias e em qual magnitude“, disse.

Atualmente, o Brasil vive a maior crise hídrica em 91 anos. O Ministério de Minas e Energia acompanha a situação por meio de um comitê especial.

O ministro Bento Albuquerque afirmou reiteradamente que o país não corre risco de ter racionamento de energia. No dia 28 de junho, fez um pronunciamento em rede nacional para falar sobre a crise hídrica.

Para evitar o colapso das hidrelétricas, o governo acionou as termelétricas a diesel, mais poluentes e com um custo maior de produção. Além disso, diminuiu a vazão de parte das hidrelétricas.

Como consequência, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) decidiu na 3ª feira (29.jun.2021) reajustar a bandeira tarifária 2 –a mais cara do sistema de bandeiras– em 52,1%. Com o aumento, a cada 100 quilowatts-hora consumidos serão pagos R$ 9,49 extras. A alta vale para julho e o preço da energia pode subir novamente em agosto.

A Aneel também anunciou que pretende firmar parceria com o governo federal para deslocar o horário de consumo das indústrias para fora do horário de pico.

A ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) adotou uma série de medidas para preservar as principais bacias hidrográficas.
Consumo

O consumo energético até abril de 2021 alcançou 169 mil GW, o maior valor desde 2004, segundo o ONS. O país vinha em alta do consumo de energia desde 2015. Em 2019, alcançou 482 mil GW. Com a pandemia e a piora econômica, o valor diminuiu para 475 mil GW, antes da retomada do aumento em 2021.

Segundo Alexei Vivan, diretor-presidente da ABCE (Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica), o crescimento do consumo de energia e o baixo nível de chuva formam o “maior perigo de desabastecimento” também para 2022.

Para ele, o início do período úmido, no final de 2021, será essencial para retomar os reservatórios. Entretanto, ainda não é possível saber o nível de chuva no país.

“A sorte é que estamos com a economia ainda em aquecimento“, afirmou. Para ele, a retomada do consumo gera um risco de situação crítica no fim de 2021 a ponto de o governo precisar “desligar” usinas hidrelétricas para preservar alguns reservatórios.

De acordo com Paulo Arbex, presidente da Abrapch (Associação brasileira de PCHs e CGHs), a crise energética pela qual o país passa não é exclusivamente causada pela falta de água, mas pela má administração dos reservatórios das hidrelétricas.

“Todo ano as hidrelétricas entregam uma porcentagem dos MW superior às porcentagens que elas têm da capacidade instalada. Ou seja, nós estamos dilapidando os reservatórios das hidrelétricas há 20 anos.”, disse.

Arbex afirma que a principal diferença do momento atual para o apagão que ocorreu no ano de 2001 é que, hoje, o Brasil possui uma capacidade de geração de energia por termelétricas de 37 mil MW, o que não havia na época.
Ministério de Minas e Energia

Em nota, o Ministério de Minas e Energia afirmou que o estudo prospectivo elaborado pelo ONS, que considera um crescimento da economia de 3%, “não indica déficits de energia ou potência nos cenários que incluem as medidas do plano de ação em curso, com destaque para a redução das vazões defluentes em Jupiá e Porto Primavera, flexibilização da cota de operação das usinas de Ilha Solteira e Três Irmãos, flexibilização das vazões da usina de Furnas e das usinas da bacia do São Francisco”.

Complementou que as medidas citadas têm por objetivo preservar água nos reservatórios de cabeceira para uso nos períodos de maior demanda no final do ano. Além disso, explica a Pasta, as ações permitem “o atendimento da carga mesmo com um crescimento da economia maior que o projetado ou com uma afluência menor do que a utilizada no estudo prospectivo do ONS, além de permitir a maior alocação da geração de outras fontes no atendimento à carga do sistema”.

 

 

Fonte: Poder360
Crédito da imagem: (Por Vinicius Bacarin/Shutterstock)