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Entrevista do professor Adriano Pires ao jornal Valor Econômico (Fonte: Valor)

Por Domingos Zaparolli | Para o Valor, de São Paulo

As jazidas do pré-sal permitiram ao Brasil se estabelecer entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo. No entanto, o país continua dependente de importações de derivados de petróleo para abastecer o mercado interno.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2018, até o mês de novembro – os últimos dados disponíveis – as refinarias nacionais produziram 95,77 milhões de metros cúbicos (m3 ) de derivados, mas as vendas internas realizadas pelas distribuidoras somaram 124,35 milhões de m3 . Foram necessárias importações de 29,22 milhões de m3 , que custaram US$ 12,99 bilhões.

A ANP projeta um aumento na demanda brasileira de combustíveis em 19% até 2026. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, divulgou em novembro a Nota Técnica Panorama do Refino e da Petroquímica no Brasil, na qual informa que até 2026 não está previsto um aumento significativo de capacidade de produção nas refinarias, o que fará com que o Brasil amplie suas importações de derivados de petróleo, principalmente gasolina, óleo diesel, querosene de avião e nafta petroquímica.

Em 2000, a capacidade de produção de derivados no Brasil era superior à demanda. Desde então, o consumo cresceu em mais de 50%, sem expansão equivalente da atividade de refino. A Petrobras chegou a anunciar a construção de quatro complexos industriais, mas apenas um está em operação e, mesmo assim, parcial. A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, deveria processar 230 mil barris diários, mas opera com 115 mil.

Projetos no Ceará e Maranhão foram cancelados. O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, estava previsto para entrar em operação em 2012, com capacidade para processar 165 mil barris diários de petróleo. As obras foram paralisadas em 2015 e não há previsão de conclusão.

O Brasil conta hoje com 17 refinarias, com capacidade de processar 2,3 milhões de barris por dia. A Petrobras é responsável por 98% da produção. A concentração é resultado mais de uma estratégia política de governo do que empresarial.

“Como a União é o principal acionista da Petrobras, vários governantes do país interferiram no preço dos produtos refinados ora para controlar a inflação ora para controlar o consumo”, diz o consultor Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “Essa interferência inviabilizou investimentos privados”, diz. O Plano de Negócios 2019-2023 da Petrobras prevê uma redução de sua participação no mercado para 60%, com a venda dos negócios de refino nas regiões Nordeste e Sul.

“A venda será boa para a Petrobras e para o consumidor”, diz Pires. A Petrobras poderá concentrar seus investimentos em exploração e produção de óleo e gás, atividades mais rentáveis. O consumidor ganha por deixar de depender de uma empresa monopolista.

Segundo Pires, as grandes petroleiras internacionais já saíram ou estão saindo da atividade de refino e, em sua opinião, o ideal seria a Petrobras também sair completamente do negócio. “Sinalizaria ao investidor que não haverá mais interferência do governo nos preços dos derivados.”

A crescente participação de fontes alternativas no mix de combustíveis, como biocombustíveis, gás natural e veículos elétricos reduzem a expectativa de expansão mundial da atividade de refino.

“Não haverá uma fila de interessados na compra das refinarias da Petrobras, mas o mercado brasileiro é atrativo”, diz André Pinto, sócio do Boston Consulting Group.

O Brasil é um dos poucos países que é grande produtor de petróleo e grande consumidor de derivados, o que permite, em uma situação de livre mercado, que o operador de refino obtenha uma boa margem de lucro. “Ele comercializa seus produtos tendo como referência preços internacionais, mas não tem os custos referentes ao frete”, diz o consultor.

O consultor avalia que as conclusões de Comperj e Abreu e Lima, se concretizadas, serão suficientes para atender à demanda brasileira nos próximos cinco a dez anos, numa estrutura de abastecimento formado por um mix de operação local e importação.

Fonte: Valor Econômico