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Por REVISTA VOTO

Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação) Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação)

PORTO ALEGRE – Reunindo alguns dos principais líderes políticos e empresariais do Brasil, o Grupo VOTO promoveu em Brasília, nesta quarta-feira (13), o Seminário de Abertura do Ano de 2019. Com o objetivo de debater propostas e mobilizar protagonistas da sociedade em torno de uma agenda de ações e reformas, o evento foi realizado em parceria com o Financial Times. Mais de 20 personalidades – entre gestores, parlamentares, ministros e executivos – palestraram e debateram ao longo da programação.

Na abertura do encontro, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, ressaltou que o novo governo reflete o sentimento de mudança de toda a sociedade brasileira. O principal desafio, segundo ele, é “romper o círculo de imobilismo, seja econômico, político ou de valores”. “Nós vamos buscar a solução dos problemas que afligem o país. Reduzir os gargalos e a regulamentação, dar mais liberdade para empreender, oferecer um ambiente de negócios estável para que investimentos cheguem ao nosso país”, pontuou. Comemorando a recuperação do presidente Jair Bolsonaro, que recebeu alta durante a tarde, o vice enfatizou que o apoio do Congresso às reformas encaminhadas pelo Planalto será uma forma de o Legislativo “recuperar a credibilidade perante a população”.

Prioridade para reforma da Previdência

Para avaliar as perspectivas sobre a agenda da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para este ano, o primeiro painel do encontro trouxe representantes do Executivo, do Legislativo e do setor privado. O ministro da Cidadania, Osmar Terra, frisou a urgência de se tratar uma das principais chagas vividas pela população: a insegurança. “Precisamos prevenir a violência. E isso passa pela cultura e pelo esporte”, salientou. Ele também adiantou que o governo federal deve iniciar o maior processo de formalização da história do Bolsa Família, criando uma porta de saída adequada para dar independência aos beneficiários.

Deputado federal em primeiro mandato, Kim Kataguiri (DEM-SP) afirmou estar alinhado com a pauta mais premente do governo na agenda legislativa: a reforma previdenciária. “Essa é a nossa prioridade. Sou o ‘chato da Previdência’”, brincou o integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), acrescentando que as mudanças também devem desburocratizar todo o sistema. A relação saudável entre empresários e políticos foi apoiada pelo vice-presidente Executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paulo Afonso Ferreira. “Ser lobista não pode ser crime. Ele é necessário para a melhoria do Brasil.” Ele também condenou a “criminalização” do setor privado. “É quem empreende que salva o Brasil. É preciso ampliar o orgulho de empreender”, destacou.

Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação) Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação)

Parcerias e desburocratização

As privatizações foram a tônica do segundo painel do dia. Secretário-geral da Secretaria de Desestatização, Salim Mattar expôs alguns dos planos do governo sobre o tema. “Estatais deficitárias custam R$ 15 bilhões por ano e têm 70 mil funcionários. Com esse dinheiro, é possível construir creches e comprar viaturas para polícia. Que escolha você faria?”, questionou. Ele ainda confirmou a meta de vender US$ 20 bilhões em estatais já em 2019. Embora Caixa e Banco do Brasil não estejam nessa lista, Mattar revelou que os bancos ficarão “mais magrinhos”.

A solução das Parcerias Público-Privadas (PPPs) foi defendida por Augusto dal Pozzo, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos da Infraestrutura (Ibeji). “Precisamos de mais eficiência e colaboração com a iniciativa privada”, pontuou. Comentando as privatizações das rodovias em Minas Gerais, o secretário estadual de Transportes e Obras Públicas, Marco Aurélio de Barcelos, adiantou que pretende “lançar um programa disruptivo” de concessões. “O Estado não pode esconder as suas ineficiências. Não há serviço público de graça.”

Para o presidente da Dana, Raul Germany, “falta visão estratégica de longo prazo para o Brasil”. O empresário criticou o que chamou de “arcabouço burocrático do serviço público”. “Espero do Executivo e do Legislativo que ajudem a desburocratizar um país emperrado”. Os dois primeiros painéis foram mediados pela jornalista Soraia Hanna, sócia-diretora da Critério e coordenadora editorial da VOTO. “A população brasileira deu o seu recado: quer mudanças, ideias novas e, principalmente, soluções diferentes”, analisou Soraia.

Foco para o governo

Em um país com tantas demandas, escolher a prioridade é tarefa fundamental. O seminário convidou quatro líderes para debater quais ações devem ser consensuais neste novo momento político. Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Marina Mattar citou a redução do Custo Brasil como uma dessas iniciativas urgentes. “Precisamos diminuir a burocracia para atrair investimentos.” Para Rafael Toríbio Nunes, diretor de Tributos da América Latina da Sanofi, a segurança jurídica é decisiva no dia a dia das empresas. “Não tem como trazer investidores sem falar disso. Como está, o país é um repelente para atrair investimentos”, sustentou, em debate mediado por Andres Schipani, editor do Financial Times no Brasil.

Na percepção de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o governo precisa focar em microeconomia e descentralização. “Faltam políticas econômicas regionalizadas. A gente precisa de mais Brasil e de menos Brasília”, assinalou.

Citando mais de 500 mil vagas não preenchidas no Brasil por falta de capacitação tecnológica, o presidente da Cisco no país, Laércio Albuquerque, alertou que é preciso reverter essa lógica. “As empresas querem investir em talentos, em novos modelos de negócio, mas o Estado precisa simplificar para gerar essa oportunidade.”

Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação) Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação)

Abertura dos mercados

Como modernizar o Estado e abrir a economia brasileira? Essa pergunta esteve no centro do quarto painel do seminário, que também contou com a moderação de Andres Schipani. O secretário de Tecnologias Aplicadas do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, brigadeiro Maurício Pazini Brandão, defendeu que “inovação disruptiva não consulta o mercado. É maluca mesmo”. E citou o economista Roberto Campos: “Riqueza nova brota da natureza, da imaginação ou de inovação”. Para o CEO da Cosan, Marcos Lutz, a abertura de mercados requer “uma agenda estruturada e de longo prazo”. “Precisamos de um plano de país que há muito tempo não temos”, propôs o empresário.

Também representando o governo, o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, adiantou que há três elementos no projeto internacional do Planalto: abertura, conjuntura e estrutura. Citando tratativas avançadas com Estados Unidos, União Europeia e Mercosul, provocou: “O grande acordo comercial do Brasil é com ele mesmo”. “O Estado tem de sair da frente. O Brasil precisa parar de atrapalhar o Brasil”, disse o ex-colunista da Revista VOTO.

Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra mostrou o ponto de vista do agronegócio para o comércio exterior. Segundo o ex-ministro da Agricultura, o Brasil já abriu 160 mercados no mundo para carne de frango. O desafio, no entanto, é “manter a reputação de que produzimos bem e com qualidade”. Sobre a relação com a China, Turra comentou que o gigante asiático “é parceiro, e não concorrente”. Ressaltou ainda que é necessário “criar uma cultura de valorização ao empreendedor”. “Há um desdém ao empresário. E dentro desse clima, como sonhar com um mercado aberto?”, questionou.

Apoio às diretrizes do governo

Cinco importantes executivos subiram ao palco do seminário para expor suas expectativas e desejos para o ano que se inicia, em painel mediado pelo editor de Mercados Emergentes do Financial Times, Jonathan Wheatley. CEO da Sonda Brasil, Affonso Nina chamou atenção para o compliance: “É de preciso ética e integridade em todas as relações, tanto na política como nas empresas”. Para Nina, “há coerência no novo governo, o que foi prometido na campanha está sendo feito agora”.

CEO da CMPC Celulose, Maurício Harger sublinhou que, quando há prosperidade, o empresário trabalha com segurança jurídica e estabilidade. “A mudança de governo do país, sob essa conduta combativa à corrupção, nos favorece internacionalmente”, reconheceu Harger. Na visão do presidente do Carrefour Brasil, Noël Prioux, há um “potencial espetacular” no país, e a sociedade “precisa ter confiança no futuro”. Os novos ventos que estão soprando na política, segundo Prioux, auxiliam nesse aumento do otimismo. “A eleição devolveu expectativas ao Brasil para uma nova história”.

O fundador da Gocil, Washington Cinel, elogiou a equipe econômica de Jair Bolsonaro e as ideias liberais que dão norte às suas ações. “Esse governo defende a empresa forte, porque sabe que a receita depende de quem trabalha”, opinou. “O que o governo pode esperar de nós [investidores]? Tudo! Se até agora estamos aqui, produzindo emprego e renda, quem dirá com o Estado do nosso lado?”, perguntou, sob aplausos. Eduardo Marchiori, CEO da Mercer Brasil, também postulou que o empresariado precisa se colocar à disposição para ajudar o governo. “É uma produção coletiva de aproximação e de resultados”, concluiu.

Momento de aproximação

Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação) Seminário de Abertura do Ano de 2019 da REVISTA VOTO. (Foto: Divulgação)

O encerramento do Seminário de Abertura do Ano de 2019 foi realizado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Fazendo um resgate desde a campanha eleitoral, o político gaúcho creditou a vitória ao perfil de Bolsonaro. “Ele se apresentou na contramão daquilo que a sociedade estava acostumada. Tocou na alma do brasileiro”, avaliou, acrescentando que o candidato acabou com “uma prática política de 30 anos”. Para ele, a postura diferente também é observada no exercício da gestão “É um governo que reduz níveis hierárquicos e que vai terminar o mandato 100% digital. Aquele que era [acusado de ser] contra o Bolsa Família, mas nos primeiros cem dias garantiu o 13º do benefício”, frisou Lorenzoni, salientando também que “os ministérios foram montados sem nenhuma barganha política”. Também se colocou firmemente a favor redução do Estado: “Não temos medo de dizer que o governo hoje tem 119 mil funções e vai acabar com 20 mil”.

Para o ministro da Casa Civil, a nova gestão está quebrando uma série de paradigmas. “Adotamos um modelo de governança pública com metas concretas para os primeiros cem dias, com revisões de alcance”, expôs. Ao comentar sobre o pacote proposto pelo ministro da Justiça, sublinhou o pioneirismo: “O Brasil será o primeiro país com alto controle anticorrupção, com um departamento dentro dos ministérios que cuida dessa relação. É preciso mudar a cultura”.

Diretora executiva da Revista VOTO, Karim Miskulin realçou que o seminário foi “um importante momento de aproximação” do novo governo com alguns dos principais grupos empresariais com atuação no Brasil. “É através de eventos como este que construímos uma nova política e uma nova cultura empresarial para o país”, defendeu.

Fonte: Revista Voto

Fotos: Filipe Cardoso e Wendel Lopes