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Mais enxuto, plano da estatal prioriza E&P, mas meta de produção para 2020 frustra investidores

Por Rodrigo Polito e Gabriel Vasconcelos para o Valor.

O primeiro plano estratégico da Petrobras sob a gestão de Roberto Castello Branco, cujas linhas gerais foram divulgadas ontem, confirmou a prioridade da empresa na exploração em águas profundas e ultra-profundas, especialmente no pré-sal, e a continuidade do esforço para redução da dívida. Essas diretrizes se tornaram bandeiras da estatal desde que o executivo assumiu o cargo, no começo do ano. O plano estratégico da companhia para o período 2020-2024, batizado de “Mind the Gap”, prevê investimentos de US$ 75,7 bilhões, 10% abaixo do estimado no plano anterior (2019-2023). A nova versão é mais enxuta e focada em exploração e produção de petróleo e gás, área que receberá 85% (US$ 64,3 bilhões) dos recursos projetados para os próximos anos.

O nome do plano, em inglês, é uma referência à necessidade da empresa de eliminar a distância que a separa das petroleiras globais com melhor desempenho. O objetivo central é criar valor “substancial” para os acionistas. Esse aspecto pode ser comprovado por três pontos. O primeiro foi a adoção do indicador “Economic Value Added” (EVA), utilizado pelo mercado, para o cálculo do retorno do capital investido. O segundo é a inclusão de um novo indicador de produção da empresa. Chamado de “produção comercial”, trata-se de um novo critério que deduz, do volume total de gás natural produzido, a quantidade reinjetada nos reservatórios, consumida nas instalações próprias de E&P e queimada no processo produtivo. A ideia é mostrar quanto da produção efetivamente se transforma em receita para a companhia.

O terceiro ponto é a perspectiva de maior distribuição de dividendos. Segundo a empresa, a redução esperada da dívida bruta, dos atuais US$ 90 bilhões para US$ 60 bilhões, em 2021, vai diminuir despesas com juros e aumentar os valores estimados de distribuição de dividendos. “É um plano diferenciado em relação aos anteriores. Agora tem um novo indicador, preocupado com o resultado, com o acionista”, disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.

No endividamento, preocupação central da Petrobras, a relação entre dívida líquida e Ebitda foi mantida em 1,5 vez para 2020. Essa meta já estava presente no plano anterior. Em setembro, o indicador era de 2,58 vezes. A Petrobras também estipulou meta de desinvestimentos de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões até 2024, sendo a maior concentração desse valor nos anos de 2020 e 2021. No plano anterior, a meta era de US$ 26,9 bilhões até 2023.

“A boa execução do plano permanece ligada ao sucesso na venda de ativos. O mercado parece estar confiante, mas o volume de vendas de ativos é significativo”, afirmou Lavinia Hollanda, sócia e diretora executiva da Escopo Energia. O BTG Pactual considerou positiva a redução da previsão de investimentos da Petrobras no novo plano. Para o banco, o corte indica que o aporte para desenvolver o campo de Búzios, arrematado pela petroleira em leilão este mês, pode ser menor que o esperado inicialmente. Além disso, o menor investimento previsto sugere maior distribuição de dividendos.

Com relação aos investimentos, a Petrobras não divulgou detalhamento por área de negócio, com exceção do segmento de E&P. A empresa só deverá abrir os números para o mercado na próxima semana, em reuniões com investidores em Nova York e Londres.

Sobre os investimentos em E&P, o valor de R$ 64,3 bilhões é menor que o previsto no plano anterior, de R$ 68,8 bilhões, embora proporcionalmente seja maior em relação ao valor total. No plano anterior, o E&P respondia por 81,8% do aporte total previsto. Agora o percentual subiu para 85%.

Na opinião de Felipe Kury, diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a alocação de investimentos para E&P é “uma coisa natural dado o portfólio que a empresa tem hoje”, em boa medida concentrado no pré-sal. “Eles [Petrobras] fizeram investimentos e é de se esperar que precisem monetizá-los”, disse em referência à participação da Petrobras no pré-sal.

O destaque negativo do plano, segundo o mercado, foi a previsão de curto prazo da produção da Petrobras. A meta da estatal para 2020 ficou em linha com a deste ano, de 2,7 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), com variação de 2,5% para mais ou para menos. A meta de produção específica de petróleo – indicador operacional mais acompanhado pelo mercado – foi definida em 2,2 milhões de barris diários (b/d), ligeiramente acima da meta deste ano, de 2,1 milhões de b/d.

O número ficou abaixo do esperado pelo Credit Suisse, que projetava volume de 2,4 milhões de b/d de produção de óleo. Na mesma linha, o BTG Pactual informou que as estimativas da Petrobras para 2020 e 2021 ficaram 4% e 2%, respectivamente, abaixo das projeções do banco. Analisando todo o período do plano, a curva de produção implica crescimento médio anual de 6%, o que foi considerado positivo pelo BTG. Na versão anterior do plano, a taxa anual de crescimento era de 5%.

Para 2024, a Petrobras prevê produção total de óleo e gás de 3,5 milhões de boe/d e produção apenas de petróleo de 2,9 milhões de b/d. A Petrobras estima ainda a entrada em operação de 13 novos sistemas de produção, sendo todos alocados em projetos em águas profundas ou ultra-profundas. Para a elaboração do plano, a estatal adotou como premissa o valor de US$ 50 por barril para os próximos cinco anos e de US$ 45 por barril no longo prazo. Não foi informada, porém, a taxa de câmbio utilizada. O plano inovou ao listar compromissos ambientais, mas limitou investimentos em fontes renováveis à pesquisa.

(Fonte: Valor)