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Segundo Adriano Pires, a volatilidade do preço do petróleo está relacionada a questão geopolítica envolvendo Irã e Israel, mas não a demanda.

Por Jorge Priori – Monitor Mercantil

Conversamos sobre o conflito entre Irã e Israel e o impacto no preço do petróleo com Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

Como o atual conflito no Oriente Médio pode impactar o preço do petróleo?

O atual conflito pode impactar muito o preço do petróleo, já que ele é sujeito a dois fatores. O primeiro é o fator mercado pela questão de oferta e demanda, sendo que o segundo é a sua sensibilidade a questões geopolíticas como o atual conflito que está acontecendo no Irã.

Do ponto de vista de mercado, o preço do petróleo deveria estar como estava no período pré-guerra, ou seja, US$ 65, pois a sua demanda caiu muito por conta da política tarifária do governo Trump, que trouxe uma desaceleração no crescimento econômico. Contudo, o que está determinando essa volatilidade gigante do preço do barril é o fator geopolítico, já que o Irã é o sétimo maior produtor de petróleo do mundo, um grande produtor de gás natural e uma das maiores reservas de petróleo do mundo.

Como o mercado está muito volátil, prever o preço do petróleo daqui para a frente é muito difícil. Até porque as grandes lideranças políticas envolvidas no atual conflito, Netanyahu em Israel, Trump nos Estados Unidos, aiatolá Khamenei no Irã e Vladimir Putin na Rússia, são imprevisíveis.

Com quais cenários você está trabalhando?

Basicamente, eu estou trabalhando com três cenários. O primeiro é um cenário de alta volatilidade, com o preço podendo chegar a US$ 90, US$ 100. Por exemplo, ontem ele chegou a US$ 80, mas hoje já caiu para US$ 77, US$ 78. O segundo considera o fechamento parcial do Estreito de Ormuz, por onde passa de 20% a 30% do petróleo e do gás comercializado no mundo, em particular o petróleo que vai para a Ásia. Para que você tenha uma ideia, 40% do petróleo importado pela China passa pelo estreito. Caso isso aconteça, o preço pode passar dos US$ 100 e chegar aos US$ 120. Agora, se o Estreito de Ormuz for inteiramente fechado, o preço do petróleo pode ir a US$ 150.

O Irá tem condições de fechar ou atrapalhar o fluxo de transporte de petróleo pelo Estreito de Ormuz?

Condições ele tem, mas é preciso ver como está a sua força militar depois dos ataques de Israel e Estados Unidos. Nos últimos dias, o parlamento iraniano discutiu o fechamento do Estreito de Ormuz, mas isso depende do conselho da república dos aiatolás, que ainda não deu uma resposta. O que me chama a atenção é que a China ainda é aliada do Irã, e como disse anteriormente, 40% do petróleo que o país importa passa pelo Estreito de Ormuz, portanto, o fechamento do estreito seria muito ruim para a China.

Os 40% de petróleo importados pela China que passam pelo Estreito de Ormuz são comprados do Irã ou a China também compra da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes e do Bahrein?

A China compra de todos eles, mas, principalmente, do Irã.

A Arábia Saudita, o Kuwait, os Emirados Árabes e o Bahrein possuem condições de escoar o petróleo que sai pelo Golfo Pérsico através do Mar Vermelho?

Possuem, mas para isso seria necessário inverter o fluxo. O problema é que isso aumentaria os fretes, pois os navios precisariam navegar mais, além de uma série de outras condições que aumentariam os preços. É por isso que o fechamento do Estreito de Ormuz leva a uma elevação de preço significativa.

O que preocupa é que essa elevação de preço vai trazer, automaticamente, um efeito inflacionário gigantesco no mundo. É bom recordar que o último grande choque do petróleo foi em 1979, quando o barril passou de US$ 20 para US$ 40. Nessa ocasião, o que fez com que o preço do petróleo dobrasse foi a queda do xá iraniano Reza Pahlavi, que era um ditador pró Ocidente, e a entrada no governo do regime teocrata dos Aiatolás, que ao contrário do anterior, era anti-ocidente e acabou tomando a decisão de investir muito na energia nuclear, que é o que está provocando essa guerra, para tentar se proteger de efeitos geopolíticos.

Como, ao que parece, o objetivo final de Israel e dos Estados Unidos é derrubar o regime dos aiatolás, isso poderia, em um primeiro momento, elevar o preço do barril para que depois ele fosse reduzido, mas hoje fica muito difícil dizer que o preço do petróleo vai cair, subir ou ficar estável. Como a volatilidade é gigante, não dá para cravar nada de concreto.

Historicamente, como o preço do petróleo costuma se comportar em crises como essa no Oriente Médio?

O petróleo vive de ciclos. Em 1973, nós tivemos um choque do petróleo por causa da Guerra do Yom Kippur. Em 1979, o petróleo, como disse, dobrou de preço por causa da queda do regime do Reza Pahlavi no Irã. Em 2012, o petróleo chegou aos US$ 120 por causa das sanções ao Irã. Mais recentemente, o preço do petróleo passou dos US$ 100 por causa da guerra entre Ucrânia e Rússia. Ou seja, quando se está em uma volatilidade em que os dois fatores, mercado e crise geopolítica, caminham na mesma direção, a probabilidade do petróleo se manter mais alto é maior. No atual momento, nós temos um mercado onde a demanda não está tão alta, mas como há uma guerra séria que envolve um grande produtor de petróleo, a volatilidade é maior. O petróleo pode ir a US$ 100, mas também pode ficar em US$ 75.

Agora, o que acontece nesses eventos é que o petróleo caro viabiliza novos produtores. Por exemplo, quando o petróleo foi a US$ 100 por causa da guerra entre Ucrânia e Rússia, isso viabilizou a volta do shale americano (petróleo de xisto), cujo breakeven estava na casa dos US$ 60. Além disso, o próprio Brasil e a Guiana aumentaram suas produções. Isso fez com que, rapidamente, o petróleo fosse de US$ 100 a US$ 75. Quando o petróleo passou de US$ 75 para US$ 65, isso foi em decorrência da política tarifária de Trump, o que foi até um contrassenso, já que ele falava durante a campanha eleitoral que era para perfurar (“Drill, Baby, Drill”). Como a sua política causou a desaceleração do crescimento econômico, isso inviabilizou a produção norte-americana, mas se o petróleo ficar na casa dos US$ 75, isso viabilizaria outra vez.

Como disse, o petróleo vive de ciclos que são determinados, muitas vezes, por questões geopolíticas ou por questões de oferta e demanda. Ele ainda é a principal commodity do mundo e é muito muito sensível, em particular, a questões geopolíticas. Existe uma brincadeira que diz que o petróleo é o rei das selvas, mas quando ele está na floresta e caí a folhinha de uma árvore, ele sai correndo assustado. Esse é o problema do petróleo.

E o Brasil nessa confusão?

Diferente de 1979, quando o Brasil importava 80% do petróleo que consumia, hoje o país é exportador. Por exemplo, a Petrobras exporta metade do que produz. Isso faz com que o preço alto do barril não seja de todo ruim para o Brasil. Evidentemente, um barril muito caro vai trazer inflação para o mundo, e o Brasil não vai escapar disso, mas para a balança comercial brasileira, petróleo alto é bom, já que ele é o principal produto da balança comercial do país.

Isso também é bom para o próprio governo, pois o preço mais alto do petróleo aumenta a receita com a arrecadação de royalties, e, nesse momento, o ministro Haddad está correndo atrás de aumento de arrecadação. Para a Petrobras, isso também não é ruim, pois para uma empresa de petróleo, barril caro é sempre bom, já que aumenta as receitas, só que a Petrobras sempre tem um fator diferente das demais petroleiras, pois quando um barril aumenta muito, principalmente em um governo do PT, há uma tradição em não se elevar imediatamente os preços da gasolina e do diesel, o que pode trazer prejuízos para a companhia. Para que você tenha uma ideia, esse movimento do Irã já fez com que a gasolina e o diesel aumentassem de preço nos Estados Unidos e na Europa.

Publicado originalmente pelo Monitor Mercantil.