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Trump está preso entre o posicionamento de promover o estímulo à produção doméstica de petróleo e gás e sua proposta de baixar o preço interno da energia

As tarifas impostas pelo governo Trump geraram ondas de choque na economia global, afetando diretamente a produção e a exploração de óleo e gás de shale nos Estados Unidos. O anúncio do pacote tarifário provocou uma queda imediata dos preços do petróleo.

Comparado ao preço médio de janeiro, quando Trump assumiu, em abril o West Texas Intermediate (WTI)benchmark norte-americano, chegou a recuar para a casa dos US$ 60/barril, mantendo esse nível de preço até o presente. Com um pequeno interregno devido à guerra entre Irã e Israel, quando o petróleo chegando a US$ 80/barril.

A lógica é simples: tarifas elevadas desencadeiam receios de menor crescimento econômico e, consequentemente, redução no consumo de energia.

A incerteza econômica e o aumento das barreiras comerciais para diversas matérias-primas criaram as condições de uma “tempestade perfeita”.

Preço alto do óleo implica em crescimento da inflação americana, pois gasolina, diesel etc sobem rapidamente; isso prejudica os objetivos políticos de Trump Foto: Alex Brandon/AP

A operação no setor depende tanto de preços favoráveis do barril quanto de custos controlados dos insumos, especialmente o aço e o alumínio, e ambos foram fortemente impactados pelas tarifas.

Esse aumento nos custos ocorre num momento crítico para a indústria do shale. Embora o preço do petróleo ainda esteja acima do breakeven técnico da maioria dos produtores de shale, a realidade financeira corporativa é mais complexa, especialmente na Bacia Permiana, o principal polo produtor dos EUA.

breakeven, que inclui custos de dívida, pagamento de dividendos e exigências de retorno aos investidores, gira em torno de US$ 62,50/barril. Com o WTI oscilando na faixa dos US$ 60 a US$ 62, muitos operadores enfrentam o risco de inviabilização de novas operações.

Na guerra do Irã com Israel, Trump ameaçou quem subisse o preço do petróleo. Isso, a princípio, parece meio contraditório. Todos sabem que qualquer guerra no Oriente Médio vai empurrar os preços do óleo para cima.

Se o preço sobe, é mais lucrativo investir, e mais projetos de óleo e gás natural acabam sendo aprovados. Isso bate com o lema da campanha “drill, baby, drill”. Mas o preço alto do óleo implica em crescimento da inflação americana, pois gasolina, diesel, etc., sobem rapidamente. Isso prejudica os objetivos políticos de Trump.

E onde está a contradição? “Drill, baby, drill” só é viável com preços de petróleo e gás altos, ou subsídios, o que não é nada provável diante da situação da dívida pública americana. No final do dia, Trump está preso entre o posicionamento de promover o estímulo à produção doméstica de petróleo e gás e sua proposta de baixar o preço interno da energia.

Esses dois movimentos só se casariam se o tarifaço proposto pelo seu governo tivesse voado, e não voou. Logo, do ponto de vista pragmático, apostaria que a pressão por preços baixos do óleo só vai durar até o estoque regulador americano secar. Ou seja, os preços do barril de petróleo vão voltar a subir e viabilizar o shale americano.

Publicado originalmente pelo Estadão.