Forte queda do lucro anual da Petrobras revela desafios estruturais

Resultados da companhia evidenciam uma deterioração na eficiência operacional e na gestão de riscos
Adivulgação dos resultados financeiros da Petrobras no 4º trimestre de 2024 (4T24), trazendo também os valores anuais consolidados, deixou um gosto amargo no 1º ano da gestão de Magda Chambriard. A empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 17 bilhões, uma reversão drástica em relação ao lucro de 32,6 bilhões observado no 3º trimestre de 2024. No que tange à receita com vendas, houve uma queda de 6,4% comparado ao trimestre anterior, enquanto a dívida líquida cresceu 18,1% no mesmo período.
Esses números não só refletem um trimestre difícil, como também levaram a uma deterioração significativa do desempenho anual da companhia. A petroleira fechou 2024 com um lucro acumulado de R$ 36,6 bilhões, uma queda de 70,6% em relação aos R$ 124,6 bilhões registrados em 2023.

A Petrobras atribuiu grande parte desses resultados negativos a um novo conceito financeiro –“eventos exclusivos”– que machucaram o balanço piorando, ainda mais, o seu resultado. A empresa destacou que, excluídos esses fatores, o lucro líquido do 4º trimestre de 2024 teria sido de R$ 17,7 bilhões e, consequentemente, o lucro anual ajustado seria de R$ 103 bilhões. Fica nítido que, mesmo desconsiderando os chamados “eventos exclusivos”, é inegável que houve uma piora nos resultados da companhia.
Um dos principais fatores citados pela Petrobras para justificar o prejuízo foi a variação cambial nas dívidas entre a companhia brasileira e suas subsidiárias no exterior. Segundo a empresa, essa variação, que resultou em uma perda de R$ 46 bilhões, é de natureza contábil e não afeta o caixa da companhia. No entanto, o resultado apresentado não se resume a esse único fator. A exposição cambial é um risco conhecido e gerenciável, e a magnitude das perdas sugere uma falha na gestão de hedge ou uma subestimação dos impactos da volatilidade cambial.
Além disso, a justificativa de que os eventos exclusivos não afetam o caixa da empresa mascara o fato de que eles têm implicações reais para os acionistas e para a percepção de risco da companhia. A Petrobras pode argumentar que esses itens são não recorrentes, mas o impacto observado nos resultados trimestrais e anuais levanta dúvidas sobre a eficácia da gestão de riscos da empresa.
Em contraponto, também chama atenção o aumento expressivo dos investimentos (Capex) em 2024, que totalizaram US$ 5,7 bilhões, um crescimento de 32,5% em relação ao ano anterior. Esse valor superou as estimativas do Plano Estratégico da companhia para o ano e pode indicar um abandono da disciplina de capital.
O ambiente externo, sobretudo no final de 2024, também não foi favorável à Petrobras. O preço do brent caiu 2% ao longo do ano, enquanto o crackspread do diesel recuou 39%, pressionando as margens de refino. Este último fator foi, ainda, agravado pela manutenção de preços médios abaixo do mercado internacional nas refinarias da Petrobras. Combinados à desvalorização do real, essas variáveis contribuíram para a queda na receita e no Ebitda da companhia.
Na média, os preços de refinaria da gasolina e do diesel vendidos pela Petrobras ficaram, respectivamente, -11,7% e -3,9% mais baratos que a referência internacional. A prática de preços defasados tiveram um custo de oportunidade estimado em cerca de R$ 10 bilhões em 2024, segundo estimativas do CBIE.
Considerando-se todas as variáveis conhecidas, os resultados da Petrobras em 2024 revelam desafios estruturais, que vão além dos “eventos exclusivos” ou das “miragens” do balanço. A verdade nua e crua é que a queda no lucro anual aponta para uma deterioração na eficiência operacional e na gestão de riscos. O aumento do Capex, embora necessário em alguns segmentos, sugere uma falta de foco e disciplina de capital, com investimentos em áreas que podem não criar mais retornos políticos do que econômicos.
Enquanto a empresa continuar a justificar seus resultados com base em conceitos exclusivos e a dispersar seus recursos em múltiplas frentes, os investidores podem permanecer céticos e a capacidade de criar valor no longo prazo, apenas uma miragem. Os resultados de 2024 podem ser só o prenúncio de tempos ainda mais difíceis pela frente.