Quais lições o Brasil pode tirar do apagão em Portugal e na Espanha?

Sai de foco a transição energética e entra, definitivamente, em cena a segurança energética
Um apagão de grandes proporções afetou parte da Europa no dia 28 de abril. Portugal e Espanha relataram colapso generalizado em suas redes elétricas. Falhas de fornecimento também foram registradas em cidades do sudoeste da França. Os efeitos sobre os serviços básicos foram imediatos, deixando a população sem o funcionamento de trens e metrôs, semáforos, serviços de internet e de telefonia. Um verdadeiro caos. Com a causa ainda sob investigação, o evento que se configura como inédito para o sistema elétrico europeu deve ser considerado um importante ponto de observação para o Brasil.
Segundo a Red Eléctrica de España (REE), responsável pela operação da rede elétrica no país, em minutos o consumo de energia passou de 25.184 MW para 12.425 MW. Portugal, cuja rede elétrica importa 33% do seu consumo da Espanha, viu a sua demanda cair de 8,16 GW para apenas 0,6 GW, um corte de 93% na sua demanda, de acordo com a Redes Energéticas Nacionais (REN).
Ataque cibernético foi uma das primeiras suspeitas, porém foi logo descartado pelas autoridades da Espanha e de Portugal. O que se sabe é que as redes elétricas sofreram dois “eventos de desconexão”, sendo o segundo responsável pelos cortes de energia. A ligação entre o sistema espanhol e o português é uma amostra de como funciona todo o sistema europeu. A Europa tem um sistema interligado de transmissão que permite o intercâmbio de energia entre 35 países. É uma rede resiliente, mas, como visto, não é imune a falhas. O ocorrido torna evidente que a dependência energética é sempre uma questão sensível. No momento do apagão, Portugal importava 33% do seu consumo de energia da Espanha. Lembram o que aconteceu com a Europa com o corte do gás natural russo?
O colapso no setor elétrico europeu deve ser tomado como lição. Esse apagão mostrou e consolidou a tese de que sai de foco a transição energética e entra, definitivamente, em cena a segurança energética. Para termos segurança energética, não podemos renunciar a fontes de energia como o gás natural, a energia nuclear e o carvão.

Os efeitos sobre os serviços básicos foram imediatos, deixando a população sem o funcionamento de trens e metrôs, semáforos, serviços de internet e de telefonia Foto: @josem699/Twitter/Reprodução
Além disso, os subsídios, sem qualquer planejamento, às fontes de energia renováveis intermitentes precisam ser cessados. Eles só vêm trazendo sinais econômicos distorcidos e fazendo uma transferência de renda dos pobres para os ricos.
Deve-se considerar, ainda, que o consumo de eletricidade continuará crescendo. E só conseguiremos atender esse crescimento com segurança se abandonarmos a fantasia de que fontes renováveis intermitentes vão assegurar essa energia. Portanto, no planejamento de longo prazo, é importante considerar um conceito que veio para ficar, o da energy addition. Precisamos tanto das moléculas como dos elétrons.
O Brasil precisa refletir sobre o apagão na Europa. A primeira reflexão é entender a urgência de realizarmos o Leilão de Reserva de Capacidade, que já deveria ter ocorrido em 2024. Caso contrário, como aconteceu na Espanha e em Portugal, o risco de apagão aqui passa a crescer cada dia mais.