A Escolha é a Infraestrutura - CBIE

A Escolha é a Infraestrutura

Book Espaço Adriano Pires
Relógio 3 de Maio de 2020
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Adriano Pires para o Estadão.

A crise da pandemia, e o pior, com muitos lutos se alonga mundo afora e agora cada vez mais sentiremos os efeitos na economia. Essa crise tem como uma das suas principais particularidades o fato que o detonador não foi econômico e sim a saúde pública. A crise de 2008 teve como causa o chamado sub prime que desorganizou o mercado financeiro americano levando a uma quebradeira de bancos, obrigando o governo a colocar dinheiro para salvar entidades financeiras. A saída da atual crise, também, vai exigir como resposta o aumento de gastos e posteriormente de investimentos públicos, mas a principal resposta será dada pela ciência, com a descoberta de um tratamento e/ou uma vacina. Como enxergo as saídas? A primeira, e a mais desejada seria através da ciência. O mundo vai poder esperar? Acredito que não. A segunda é que as pessoas, apesar do risco, tendam a tomar decisões de voltar a uma nova normalidade das suas vidas. Essa decisão é determinada por dois fatores: econômicos e sociais. Os econômicos ligados ao emprego, à renda e sobrevivência das empresas. Protegendo as empresas protegemos os empregos. A segunda é que as pessoas cada vez mais precisam de um retorno da sociabilidade. Ninguém aguenta isolamento por prazo indefinido. A reabertura da economia com o estabelecimento de protocolos vem apresentando sucesso em diversos países e no Rio Grande do Sul no caso do Brasil. A economia reagiu positivamente e o preço do barril de petróleo já ultrapassou os 30 dólares. Enquanto em diversos países existem planos e uma união em torno do combate ao vírus e da reabertura da economia, aqui temos boas ideias, péssima execução e informação de baixa qualidade. A consequência se traduz na ausência de planos consistentes para o combate à pandemia, para a reabertura da economia e para a retomada do crescimento econômico. Com isso, corremos o risco de caminhar para uma catástrofe social e econômica. A social com o crescimento exponencial da pobreza, do desemprego e dos empregos informais. A econômica que hoje aparece numa clássica crise de queda da demanda, contaminará a oferta, fechando empresas de diferentes tamanhos. É preciso reagir.

No Brasil, os setores do agrobusiness e mineração voltados para exportação, estão entre os mais protegidos. Isso é explicado por nossas vantagens competitivas, pela desvalorização do real e a necessidade crescente de alimentos e matérias primas em escala mundial. A China, nosso principal comprador, antecipou o crescimento.

A globalização tende a sofrer uma espécie de lockdown e não sei o que virá no lugar. Mas temo um nacionalismo/populismo exagerado e a volta das políticas de reserva de mercado e movimentos contra as privatizações. O fato é que precisaremos de uma maior participação de investimentos públicos e privados nos programas de expansão da infraestrutura, em particular em países com grande déficit social.

Nos últimos anos o Brasil tem destinado uma pequena parcela do seu PIB para investimentos de infraestrutura. Isso levou à redução do nosso nível de estoque de infraestrutura (somatório de todos os ativos de infraestrutura sobre o PIB) à patamares de 36%. Esse patamar de estoque, que pode se refletir em aumentos de produtividade e competitividade do país, é menos da metade do observado em países desenvolvidos como EUA e Alemanha. O Projeto Infra2038, associação em prol do desenvolvimento da infraestrutura brasileira, destaca que para o Brasil chegar ao nível de 77% de estoque de infraestrutura será necessário um investimento de R$ 8,7 trilhões em energia, saneamento, telecom e logística. Se tivessem ocorrido investimentos de R$ 70 bilhões em 2019, o número de novos empregos poderia ter chegado a 1,6 milhões. Com R$ 200 bilhões de investimento, a geração de empregos poderia ser da ordem de 4,7 milhões.

Para atingirmos esses números gigantescos só com um novo modelo de país, de financiamento e novos marcos regulatórios que permitam investimentos públicos e privados inteligentes. Essa deveria ser a escolha. Sem dogmas e preconceitos. Como nos diz Pablo Neruda “Você é livre para fazer as suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”.

(Fonte: Estadão)

Adriano Pires é sócio fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

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