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O transporte do gás natural sempre foi um desafio para as civilizações que começaram a se utilizarem do energético. Diz-se que chineses utilizavam tubos de bambu para transportar gás emergente na superfície já há 2 mil anos atrás. Nos tempos modernos, a construção de gasodutos de metal se desenvolveu na segunda metade do século XIX, para atender à necessidade de um sistema de transporte de gás em grandes volumes por longas distâncias. Após a segunda guerra, o desenvolvimento de novas técnicas de soldagem, juntamente com os avanços na laminação de tubos e na metalurgia, aumentou ainda mais a confiabilidade do duto. Com auge na década de 1960, houve um boom de construção de gasodutos que produziu uma malha de milhões de quilômetros nos EUA, conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Malha de Gasodutos nos Estados Unidos

Fonte: American Energy Mapping (2013)

Os gasodutos são tipicamente posicionados em seções elevadas do terreno ou enterrados, conforme observado na Figura 2, e são construídos com aço carbono sem costura submetido a tratamentos superficiais, uma vez que precisam de alta durabilidade e segurança, pois o gás natural é altamente inflamável e, em condições de alta pressão, explosivo.

Figura 2 – Exemplo da Construção de um Gasoduto

Fonte: Jornal O Petróleo

Para menores distâncias e em redes de baixa pressão junto aos pontos de consumo, o polietileno de alta densidade (PEAD) pode ser utilizado na construção dos dutos. Em regiões alagadas, travessias e cruzamentos, os dutos precisam ser acompanhados de jaqueta de concreto, que consiste em envoltório com a finalidade de aumentar seu peso para estabilizá-lo quando submerso. O diâmetro dos dutos é projetado para atender a demanda por fluxo do gás, enquanto a espessura da parede dos dutos é calculada para suportar a pressão de operação e os demais esforços solicitantes. No caso de transporte de petróleo e derivados em dutos, a nomenclatura utilizada é oleoduto.

Com a adoção em escala industrial de gasodutos de longas distâncias, para o fornecimento de gás natural em grandes volumes comerciais, gradativamente se desenvolveu uma padronização moderna das malhas de gasodutos, conforme apresentada na Figura 3 abaixo. a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) classifica os gasodutos conforme a parte da cadeia do gás natural em que é utilizado. 1) Gasoduto de Escoamento: no início da cadeia, este é o duto encarregado da movimentação de gás natural desde os poços produtores até unidades de processamento de gás natural (UPGNs) e tratamento ou unidades de liquefação em gás natural liquefeito. 2)            Gasoduto de Transporte: gasoduto que realiza a movimentação de gás natural desde as UPGNs até instalações de estocagem, grandes consumidores diretos, como indústria pesada ou térmicas, ou finalmente aos pontos de entrega (City Gate) de concessionários estaduais de distribuição. 3) Gasoduto de Distribuição: parte da infraestrutura dos concessionários de distribuição, recebe o gás natural no ponto de entrega (City Gate) e entrega aos consumidores finais, completando a cadeia do gás.

Figura 3 – Esquema de uma Malha de Gasoduto Típica

Fonte: Elaboração CBIE

Dutos de grandes diâmetros, com menor espessura de parede e capazes de operar sob alta pressão são tendência mundial, com uso de tubos de aço especial. De acordo com a Petrobras, gasodutos com maior presença de níquel na composição, indicados para ambientes altamente corrosivos vem sendo usados no Brasil. No Pré-sal, devido aos altos índices de contaminantes como H2S e CO2 presentes no gás natural, tubos especialmente produzidos com materiais estão sendo preparados para o escoamento da produção.

Ainda assim, o Brasil ainda está muito atrás em relação a países vizinhos na disponibilização de malha de gás natural encanado para atender a população. A malha de gasodutos brasileira completa tem cerca de 45 mil km, sendo que a malha dutoviária para transporte de gás natural possui apenas 9,5 mil km, conforme apresentado na Figura 4. Hoje, parte significativa do gás natural que sai de poços do pré-sal tem de ser reinjetada nos campos, pois não há como escoar, processar e distribuir o energético. O aumento da atividade industrial a partir da maior disponibilidade de gás natural do Pré-sal é fundamental para o país entrar na transição energética, caminho que o mundo já está percorrendo.

Figura 4 –Malha de Gasoduto de Transporte Brasileira