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Acordo de países integrantes da Opep pode ser bom para Petrobras; estatal atingiu recorde de exportação de óleo combustível em maio: 1,1 milhão de toneladas

Por Felipe Mendes para Veja.

Os americanos acompanharam com olhos atentos a reunião entre os países membros da Organização de Exportadores de Petróleo e seus aliados, a Opep+, realizada no último final de semana. Os principais produtores do óleo no mundo concordaram com a manutenção do corte de 9,7 milhões de barris por dia até o mês de julho, para alívio dos mercados globais. Em março, uma guerra sem precedentes foi iniciada entre Rússia e Arábia Saudita, o que derrubou os preços a níveis históricos e pressionou, sobretudo, o desenvolvimento da indústria de xisto nos Estados Unidos. Desde meados de abril, quando fora anunciado a redução de 10% de toda a produção no mundo, os patamares do petróleo têm ganhado fôlego. Ao manter o nível de preço na casa dos 40 dólares, a exploração volta a ser rentável para a maior parte dos países produtores. Um dos destinos mais importantes para o mercado, a China, registrou o maior nível mensal de importação de petróleo bruto em maio, ao receber o equivalente a 11.296 milhões de barris diários. E isso é um bom prenúncio, sobretudo, para a Petrobras. Com a retomada dos preços, a empresa ganha um espaço para retomar investimentos que tinha desacelerado ou abandonado por completo em momentos em que o petróleo figurara abaixo dos 30 dólares, além de impulsionar sua receita com as exportações.

Com a crise de consumo no mercado doméstico, devido às medidas restritivas adotadas em diversos estados para se evitar o contágio pelo novo coronavírus, a estatal brasileira mirou novos mercados e conseguiu atingir a marca de 1,1 milhão de toneladas de óleo combustível exportados em maio, superando em 10% o recorde anterior atingido em fevereiro. A quantidade exportada foi 231% superior ao volume vendido ao exterior em maio de 2019. Segundo a petrolífera, o resultado reflete as ações tomadas durante a crise de Covid-19 para retomar a produção da área de exploração e produção e readequar as cargas de refino, concentrando esforços em produtos que maximizam a margem da companhia sem pressionar os estoques. Além disso, no início deste ano, entrou em vigor uma nova especificação mundial dos combustíveis marítimos (IMO 2020), que reduziu de 3,5% para 0,5% o limite de teor de enxofre no óleo combustível, caracterizando-se uma oportunidade ímpar para a companhia. “O óleo combustível brasileiro tem um baixo teor de enxofre. O óleo extraído do pré-sal é ambientalmente muito bom e tem mercado em todo o mundo”, diz Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Diante da necessidade de cortes de gastos, a Petrobras também informou que pretende reduzir em 25% as funções gerenciais na estrutura interna da companhia. Essa é uma das medidas tomadas pela empresa para cortar seus gastos operacionais em 2 bilhões de dólares para 2020 e preservar o caixa frente ao cenário de queda de preços e de demanda do petróleo. Além disso, no início de abril, a petrolífera cortou sua produção diária em cerca de 200.000 barris de petróleo por dia, além de reduzir seu capital de investimentos para este ano de 12 bilhões de dólares para 8,5 bilhões de dólares. No âmbito da gestão de recursos humanos, foi anunciado um programa de redução de 700 milhões de reais em gastos com funcionários, com medidas como a postergação do pagamento da remuneração mensal de empregados com função gratificada (gerentes, coordenadores, consultores e supervisores); o cancelamento dos processos de promoção para empregados de cargos altos e a redução temporária da jornada de trabalho, de 8 horas para 6 horas, de cerca de 21.000 empregados.

Para Décio Oddone, ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, a ANP, a volta do combustível a um patamar de preço acima de 40 dólares é um alento para as nações produtoras, mas os efeitos que a pandemia terá sobre o mercado ainda não estão calculados. Por isso, é difícil projetar um cenário em que o petróleo volte a figurar acima dos 60 dólares. “O petróleo é um mercado com características permanentes de volatilidade. Os efeitos mais duradouros do coronavírus para sua demanda ainda serão conhecidos”, diz ele. “Vamos ter uma mudança de comportamento da sociedade. Grandes eventos e congressos que reúnam milhares de pessoas e o turismo serão atividades em que haverá mais demora para se voltar ao nível de antes. Por outro lado, pode ser que, num primeiro momento, que utilize o transporte público para se locomover prefira usar o carro próprio para evitar aglomerações”, complementa.

Na última quinta-feira 4, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social, o BNDES, anunciou uma medida de estímulo para o setor sucroalcooleiro, que emprega 1 milhão de pessoas e tem sofrido fortemente com a queda de consumo em decorrência da pandemia de coronavírus. A ação intitulada Programa BNDES de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro é composta com bancos comerciais e disponibilizará de crédito entre R$ 10 milhões e 200 milhões, limitados a 50% do valor do financiamento, e estará disponível para empresas com receita operacional bruta superior a 300 milhões de reais. As usinas poderão usar estoque de cana-de-açúcar como garantia. Para Pires, a medida é benéfica, mas demorou a ser anunciada. “A pandemia deve acelerar uma transição energética. Por isso, é preciso proteger esse setor. Nenhuma das 20 cidades mais poluentes no mundo é brasileira e isso é fruto da nossa matriz de transportes que é muito moderno do ponto de vista ambiental. Temos 27% de mistura de etanol na gasolina e 12% de biodiesel no diesel. Isso nos coloca em vantagem frente aos outros países”, afirma.

(Fonte: Veja)