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A qualidade do asfalto produzido e utilizado no Brasil não é a causa dos inúmeros problemas associados ao cenário da pavimentação de estradas e rodovias. A falta de manutenção adequada e o mau planejamento e execução é que são os responsáveis pelas irregularidades enfrentadas diariamente, por quem utiliza este modal.

Um estudo feito pela Confederação Nacional de Transporte (CNT), em 2019, classificou as estradas brasileiras quanto à situação geral, pavimentação, sinalização e geometria da via, conforme figura 1. No total, 108.863 quilômetros (km) de rodovias foram avaliados pela CNT em todo o país, conforme critérios internacionais. Destes, considerando estado geral, 64.198 km (59,0%) apresentam algum tipo de problema, 37.628 km foram considerados regulares e o restante, 26.570 km (24,4%), recebeu classificação ruim ou péssima.
<h6 style=”text-align: center;”><strong>Figura 1: Resumo das Características Avaliadas nas Rodovias</strong></h6>
<img class=”size-full wp-image-3586″ src=”http://cbie.com.br/wp-content/uploads/2019/11/vc-sabia-img-1-1.png” alt=”” width=”823″ height=”576″ /> Fonte: Reprodução

O asfalto como conhecemos, na rua, na verdade é o resultado de todo um processo que começa em uma refinaria, quando o petróleo é passado por sucessivas destilações e retiradas de subprodutos. O resultado destes processos é um material betuminoso, espesso, constituído de misturas complexas de hidrocarbonetos e substâncias minerais diversas, que dará origem ao asfalto convencional.

No Brasil, as treze refinarias da Petrobras produzem praticamente todo o asfalto usado no país, misturado com areia e brita (pequenas pedras) para formar a camada superior da pavimentação. Este produto, de boa qualidade, não só é utilizado no Brasil, como também é exportado para países como Paraguai, Uruguai e Peru – os três maiores importadores de asfalto em 2018. Então por que tanto problemas associados às estradas brasileiras?

Apesar desse revestimento externo de asfalto ser bom, para a superfície de uma estrada se manter lisa e suave como é desejado, é necessário que suas três camadas inferiores, chamadas de subleito, sub-base e base, também tenham sido bem fundamentadas. Um processo de pavimentação de qualidade precisa de terraplenagem e compactação para preparar o leito para suportar de forma adequada o peso que vem por cima. Acontece que nem toda execução da obra é bem-feita.

Algumas vezes a pavimentação é executada sem projeto algum, por uma empresa que venceu uma licitação pelo menor preço e, embora isso pareça positivo, no fim das contas é o “barato que sai caro”. Uma redução de custos que afete a terraplenagem ou uma compactação insuficiente vai se traduzir em espessura das camadas desnivelada ou insuficiente.

Para calcular corretamente o projeto de terraplenagem e compactação, o engenheiro fazendo planejamento da pavimentação precisa considerar o fluxo de veículos, a estabilidade do solo e o clima da região na hora de escolher o método de pavimentação. O método da pavimentação rígida mais simples, por exemplo, combina base e superfície em uma única camada para absorver melhor as tensões e distribuir as cargas por uma área relativamente maior, transferindo menos intensidade para o solo. A pavimentação mais rígida pode usar reforços de aço na forma de concreto armado para aumentar sua resistência.

O estado de conservação da superfície é facilmente perceptível ao usuário, que age diretamente na segurança, bem como diminui a durabilidade de componentes veiculares. Estima-se que rodovias com pavimentos considerados em estado péssimo, figura 2, pode quase dobrar o custo operacional do transporte de cargas, podendo chegar a um adicional de até 91,5%. O país gasta, em média, 28,5% a mais do que deveria para transportar bens e insumos, apenas em razão da má pavimentação. Além disso, rodovias de baixa qualidade aumentam o risco de acidentes e demandam altos investimentos, em primeira ordem para manutenção e restauração, e em casos mais graves, para a reconstrução.

Há, ainda, nítida diferença no valor investido do setor público para o setor privado. De acordo com a CNT, de 2016 a 2018, o investimento privado por quilômetro foi quase três vezes maior do que o investimento público federal. Tal conjuntura é refletida nos números resultantes, onde 67,5% das rodovias avaliados sob gestão pública possuem problemas, sendo avaliados como regular, ruim ou péssimo no estado geral. Nas rodovias sob gestão concedida, esse percentual é de 25,3%.

Por fim, investimentos em infraestrutura rodoviária e manutenção adequada são as chaves para destravar a competitividade brasileira e garantir qualidade e segurança para quem transita pelo modal mais utilizado do Brasil.

<em>(Fonte: CBIE)</em>